Nostalgia
O tempo passa. Afirmação besta, óbvia e evidente. Mas mesmo assim: o óbvio precisa ser dito; para nós mesmos e para os outros. Percebo que houve dias em minha infância que eram anos; percebo também que os anos atuais parecem dias. O tic tac do relógio não é somente inexorável; ele está acelerando. O tempo passa. Lembro-me como se fosse ontem do dia que fiz 18 anos; escapei-me e fui para casa de uns amigos, fizemos um bolo de caneca, soprei uma vela... e, num piscar de olhos, faço 19. Contudo, nessa marcha temporal, meus olhos não se fixam no presente nem no futuro, mas no passado. Quando olho para o passado, existem dois sentimentos em mim: angústia e esperança. Angustiado talvez seja eufemismo, o que acontece mesmo é um aperto no coração e um nó na mente que me diz que eu deveria ter aproveitado mais, que as coisas não são como antigamente... que o tempo deveria parar. Também fico feliz, lembro-me dos amigos antigos, das risadas sinceras, dos choros não fingidos e dos projetos não finalizados com aquele ar de valeu a pena e que faria tudo de novo. Mas no fundo o gosto ainda é agridoce. Incompleto. Algo está errado. Porque deve haver um fim? Porque deve haver últimas vezes? Porque um dia terei que me despedir dos meus mais íntimos amigos? Porque um ia terei que me despedir dos meus pais? Porque o tempo passa. Mas algo está errado, não deveria haver últimas vezes. Mas enquanto houver esse tempo haverá últimas vezes. Portanto, se um dia a própria eternidade habitar conosco, haverá últimas vezes?