A cidade.

A cidade é a colméia dos humanos. A cidade é onde humanos escolhem se agrupar, para todos juntos sentirem-se solitários, malditos e desgraçados, perante a existência. Na cidade constroem se ídolos e crenças, que dominam o mundo, humanos unem-se para dominar outros humanos e submete-los a tratamentos desumanos, para que algum sistema econômico, social, político, persevere e sobressaia sobre outros.

Enquanto alguns humanos, participam ativamente na destruição do mundo, outras ficam em suas salas de jantar, interessadas apenas em nascer e em morrer, sendo requisitadas apenas nas horas em que precisam ser manipuladas e exploradas. Mas, não se importe com essas pessoas, talvez elas mereçam isso, elas nem se importam com nada o que acontece com o mundo, interessam-se apenas em assuntos triviais. Suas filosofias de vida mudam na mesma velocidade me que se muda de canal, quando muito mudam quando acaba a novela que estão assistindo.

Mas, há de se tomar cuidado com essas pessoas. De suas cavernas elas esperam ansiosas por algo que aconteçam que mude suas vidas. Este algo pode variar de intensidade de pessoa para pessoa, pode ser a vizinha que trai o marido ou o meteoro salvador que destruirá a tudo e a todos com Jesus Cristo como piloto.

A cidade pode ser definida como um grande campo de concentração disfarçado, no qual pessoas tentam organizar o caos, outras tentam promover o caos, e outras tantas perdem seu tempo tentando descobrir o que é o caos em suas caixinhas de leite matinal. Já que este é sua única fonte de leitura sadia.

Na cidade as maiores atrocidades acontecem, camufladas. Tem-se um código de ética moral que teoricamente governa todo mundo, algo que poderíamos definir como Moral. A moral é um grande monstro abstrato, ninguém nunca o viu, mas sabem que ele existem. E como regra geral, fuja dos humanos que exaltam muito sua moral, geralmente são os menos a tem.

Em nome da moral, guerras acontecem, pessoas morrem, sofrem choram e se tornam loucas, por que geralmente a única utilidade da moral é privar seres humanos de seus direitos e desejos básicos, tal como o sexo.

De acordo com o livro nunca escrito mas está nas cabeças de todos sobre moral. Deve-se fazer sexo apenas para se procriar, uma única vez e, apesar de ser uma das coisas mais baratas, para alguns e prazerosas do mundo, nunca se deve sentir prazer com ele, pois ele é sujo e pecaminoso.

Existe somente alguns lugares onde se pode fugir dessa moral repressora promovida para controlar humanos. Um destes lugares é a sua casa, principalmente se as janelas forem grossas e nenhuma vizinha puder lhe espionar. Então, os humanos praticam todo tipo de bizarrice que podem praticar em suas casas, ou em lugares escondidos de outros olhares, enquanto que, socialmente, no contato com outros humanos, negam tudo o que tem feito, julgam e excluem pessoas que fazem e assumem o que eles fazem no conforto de seu lar.

Sim. A cidade também é o lugar propício para julgamentos, todos estão julgando a todos e, geralmente aquele que mais julga é a pessoas que mais faz coisas escondidas em casa.

Existem também horários em que a moral parece dormir. Tais horários são as altas horas da noite. Na calada da noite, quando a cidade se silencia e a programação da televisão é bem melhor do que de dia, por que não existe ninguém interessada em assisti-la. Na calada da noite é quando acontecem as coisas mais bizarras e absurdas. É quando o demônio anda solto na cidade. Os humanos não ficam com medo mais e podem praticar tudo o que reprimem durante a noite.

Deve ser essa a razão de tantas pessoas não gostarem da noite. A noite tem a função de liberar toda a loucura dos seres humanos. Na noite escutam-se gritos de dor e prazer, sirenes, choro, brigas. Na noite escutasse tudo que o dia nos nega.

Temos personagens peculiares quando estamos na noite, a prostituta, que é a mulher que faz o que a esposa não faz, a mulher que é paga para ser escrava, já que existem homens impotentes que não conseguem se excitar se não estiverem exercendo seu poder dominador, vide políticos e grandes empresários. A prostituta é aquela linda mulher que vai te amar loucamente por uns bons trocados, valorize-a. Temos o bêbado, nos bares, falando besteira e filosofando seriamente sobre problemas da vida, como a relação entre a cerveja que acabou e o niilismo, garfos variados e processos identitários, mulheres e existencialismo. Respeite o bêbado na noite, ele geralmente fala coisas mais proveitosas durante sua bebedeira em uma noite, do que qualquer pessoa que não bebe em toda sua vida. Bêbados costumam ser sinceros.

Temos vários outros personagens da noite, estes são apenas os mais procurados e conhecidos. Temos assassinos, políticos, estupradores, lixeiros, policiais. É impressionante a variedade de pessoas e situações que se pode presenciar na noite.

Em suma, a cidade é um lugar de paradoxos, hipocrisias, mentiras. Tem todo o potencial para ser um lugar doce e feliz, mas geralmente não se vêem pessoas felizes, no máximo alegres com seu próprio sofrimento.

Eu sou o Forasteiro e estou em uma busca. Uma busca que se iniciou a muito tempo, já não sei mais quanto. Busco encontrar algum humano de fato, ou pelo menos encontrar algumas pessoas que tenha potencial para ser humano. Alguém onde a humanidade ainda resista e valha a pena não se destruir esse mundo. Estou procurando um homem livre e justo. Que seja principalmente justo com seu próprio ser interior.

A muito tempo espero encontrar esse homem, pois tenho uma missão para ele. Tenho lições para lhe ensinar. Tenho algo a dizer. E, em todos estes anos de busca, procurando humanos, posso com segurança dizer: nunca encontrei nenhum, realmente não encontrei uma pessoa que seja digna de dizer que é humana, justa. Nunca encontrei alguém que estivesse despido de suas mascaras. As maiorias das pessoas existem anseio encontrar uma que viva de fato. Apenas uma pessoa que viva, ou que possa aprender a viver.

Eu já estou cansado, meu tempo está acabando. Preciso encontrar o que procuro o mais rápido possível e entregar todo meu tesouro para essa pessoa.

Eu sou o Forasteiro, o espírito da desilusão.