O custo do ódio

Nossos sentimentos são complexos. E são sentidos todos em um mesmo lugar: dentro de nós! O amor acelera o nosso coração, a alegria faz saltitar nossas pernas, mas a raiva também amargura nossos sentidos e a tristeza nos deixa abatidos. Isso porque todos os sentimentos são experimentados através de nosso corpo, o exato lugar de onde brotam. E entender isso é importante para que consigamos compreender o impacto de certos sentimentos que alimentamos. Quando amamos, é como se aquela pessoa não saísse de nossa cabeça. A todo instante nos pegamos pensando nela. Como quando sabemos que seu filme predileto é A Era do Gelo e ao ganharmos o mamute Manfred como brinde no nosso MC Lanche Feliz é logo nela que pensamos e em como ficaria feliz se estivesse ali conosco. No entanto, o mesmo acontece com sentimentos não tão agradáveis de se experimentar.

“Quando a gente odeia uma pessoa, dedica a vida toda a ela” (Guimarães Rosa)

É o que não entendemos. Seja qual for o sentimento que nutrimos por alguém, isso faz com que ele permaneça em nossas lembranças, em nossas memórias, dentro de nossos pensamentos. O problema do ódio é que com ele vêm todos aqueles desconfortos como raiva, ira, frustração, indignação, decepção, mágoa, rancor, tristeza, abatimento... E tais elementos nos fazem repetir incansáveis a imagem daquela pessoa, suas ações, suas palavras, seus gestos que nos feriram e machucaram. Ficamos nos indagando sobre como ela foi capaz de trair nossa confiança, de tirar lágrimas de dor de nossos olhos ou de desrespeitar a nossa dignidade a partir do que fez, da forma como nos tratou. E isso se perpetua por dias, semanas, meses e até anos. Quantos que se limitam ao viver um novo amor porque continuam amargurados nas feridas do amor antigo? É o preço do ódio. Uma vida dirigida em torno de alguém que algum mal nos causou.

Vale à pena? Será que é um preço justo? Com isso quero trazer à reflexão que nutrir sentimentos de ódio por alguém só o faz permanecer em nossa vida com um peso que não merece. Enquanto que poderíamos estar ofertando aquele espaço para pessoas ou experiências melhores, ocupamo-nos de fazê-lo continuar tendo influência sobre nós, nossos atos e nossas escolhas. Daí a importância de olharmos para dentro e nos curarmos. Talvez nem se aquela pessoa nos pedisse perdão conseguiríamos acabar aliviados. Talvez o alívio só aconteça conforme compreendermos as feridas que estão abertas e, em nosso próprio ritmo, tratarmos de curá-las. Não ofereça sentimento algum a quem não merece nem mesmo o seu ódio.

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)