Do ver desprendido ao tempo.

Percebe-se que se precisa da náusea. Interrompe-se. Não se volta à náusea. Precisa-se dela para apreender o entorno, o frenético, o estranho; e enxergar o vazio do que vem de fora. Necessita-se da melancolia, já íntima. Dessa tristeza ácida. Desse olhar corrosivo. A matéria bruta do compreender. O destino que se afunila diante da possibilidade do não ser. É-se mediante ao entendimento contido, talvez. Ao final: a desistência e a procura pelo sentido. O abstrato não preenche. E o desespero revisita. Os olhos captam o estado de coisas e nunca se cansam de ver. E tudo parece ter chegado ao seu fim, ao seu ponto culminante. O que vem depois é uma linha reta esmaecida de tempo que se esvai. Tudo se repete. E o ser desgasta-se. A chave é o alienamento: ver e não pensar; enxergar e o nada na cabeça. Observar através da iluminação projetada sobre os entes. Nada captar. Nada sentir. Apenas ser em si. E a dureza súbita que paralisa e que não faz nada ter valor; que petrifica e, quando se tenta quebrar, fere-se com o instrumento que utilizou para isso. Detona-se a si.

Mariizans
Enviado por Mariizans em 12/07/2024
Código do texto: T8105475
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