Minha casa interior
Eu sempre acho que o problema sou eu. É culpa minha que as pessoas saiam da minha vida sem nem se dar ao trabalho de se despedir. Eu sempre acho que tem algo de errado em mim. Mesmo sabendo que eu dei o meu melhor às pessoas, que usam de subterfúgio para irem embora. Mesmo quando o outro nitidamente errou comigo, eu abraço a culpa como se fosse minha, deixando-a que me faça âncora e me afunde no fundo do oceano. Porém, nem sempre é sobre mim. Às vezes, é sobre o outro. Por mais que me envolva, não diz respeito a mim. É o outro e seus demônios. O peso de sua consciência. Ou a falta dela, muitas vezes. É, eu demorei a assimilar que algumas coisas que me acontecem, na verdade é mais o outro projetando suas frustrações em mim. É que assimilei de uma forma meio torta que essas coisas acontecem por alguma razão que só o tempo dirá qual é. E nem sempre assim. Às vezes as coisas acontecem quando não deveriam e isso é uma droga. Eu não devia passar por isso. É frustrante. É que meio que eu sentia que a minha vida é como se fosse uma grande fábula, que lia quando criança, e que toda situação me levaria para perto de um grande aprendizado. Contudo, tem coisas que eu não quero aprender, só reclamar, chorar, me encolher e esperar passar. Acontece que a vida não é uma fábula. Nem sempre tem uma grande lição por trás das coisas. É uma merda, porque eu só queria ficar na minha, em silêncio, com a minha plaquinha de “não perturbe”. É demais querer só um pouquinho de paz? Ficar de boas comigo, com os outros, com o mundo. Sério, eu merecia isso, já que nunca mexo com ninguém. Todavia, eu ainda não entendi como conseguir isso. Mas juro, de dedinho, que estou no caminho. É uma longa, dolorosa e solitária estrada. É, eu vou aprender a gostar da minha companhia e não depender da aprovação do outro. Entretanto, não sou ingênua de achar que não preciso do outro. A vida é também se sentir amado e pertencente. Mas é também saber quem é esse outro em que eu posso colocar a minha vulnerabilidade. Uma hora eu vou bater o pé e deixar o outro assumir a sua responsabilidade por suas escolhas, erros e acertos, assim como eu tenho feito, de forma um tanto dura, muitas vezes. Somos seres carentes, fato. Mas somos mais que isso também. Eu tenho me dado conta disso. Não à toa, Sylvia Plath diz que desejava desesperadamente ser querida. Que as pessoas notassem a sua existência. Eu passei muito tempo querendo isso, mesmo quando me escondia. Porém, eu cansei de recolher migalhas. Eu me verei com menos importância. Abrigar nossa insignificância tem seu poder. Nem tudo, ou melhor, a maioria das coisas sobre mim não tem nada a ver com o outro. Eu sou quem sou, sinto e ofereço, para além do outro. Eu ainda vou conseguir me culpar menos e me perdoar mais. Ainda gosto da ideia de abraço. Só não precisa me prender. Ou vem para me causar paz ou me deixa em paz. Eu já não vou mais arrumar a minha casa interior para alguém bagunçar e me deixar com a sensação de que o culpado fui eu por abrir a porta. Quando não há nada de errado em abrir as janelas e deixar o sol entrar. Eu mereço ter flores bonitas em cima da mesa e boa companhia para o chá da tarde.