Tempo: o assassino da esperança
Quando eu era mais jovem, costumava acreditar muito em uma frase atribuída muitas vezes a Che Guevara: "os poderosos podem arrancar uma, duas, até três rosas. Mas jamais poderão deter a primavera".
Essa frase que outrora me enchia de esperança, hoje me parece pueril e ingênua.
Em 3 décadas e meia de vida, já vi os poderosos deterem dezenas de primaveras e vejo flores despedaçadas todos os dias - as que resistem, acabam tendo que viver no lixo. Do lixo.
O autor de tal frase talvez não quisesse ver que o poder e o dinheiro são capazes de fazer até do solo mais fértil, um terreno pantanoso.
A primavera resiste pontualmente, mas não é mais a mesma. Não tem viço, nem cor, nem cheiro bom. As flores da esperança não adornam mais. Nem sequer os pássaros vêm trazer boas novas e os que tentam, envelhecem cheios de frustrações.
A ternura já foi perdida na estação das flores. As que ousam brotar, precisam de espinhos por todo o corpo.
Sim. Conseguiram deter a primavera.