Você se acolhe?
Sabe...? Às vezes eu sinto que nos dispomos tanto aos outros, solidarizamo-nos tanto pela dor dos outros, tentamos tanto nos colocar no lugar dos outros, mas quando se trata de nós agimos como verdadeiros e cruéis carrascos. Nós nos criticamos severamente e nos cobramos arduamente. Olhamos para nós como se quiséssemos encontrar nesse conjunto integrado de carne, ossos e sentimentos, algo parecido com engrenagens, ferro e vazio. Não somos máquinas. Mas nos tratamos como se fôssemos. E toda aquela empatia, compreensão e paciência que ofertamos às pessoas, deixamos de oferecer a nós mesmos, a quem mais deveria nos importar.
Nós não nos perdoamos por nossos erros, não nos acolhemos em nossas dificuldades e não nos respeitamos em nossas limitações. Consolamos alguém, buscamos lhe oferecer os mais humanos dos conselhos e tentamos lhe ajudar a se encarar com mais paciência e respeito. Mas quando é a nossa vez... Nossos conselhos não nos servem, o olhar mais respeitoso não se aplica a nós e quanto a paciência, parece que nos condenamos por não termos nascido prontos. Respeitamos o processo de todo mundo e até instruímos que respeitem os seus processos individuais, mas quando é a nossa vez... Não tem essa de respeitar o próprio processo. A vida é curta e temos pressa.
Eu sei que nem todo mundo tem essa postura cuidadosa com o outro.
Mas em muitos casos, aqueles que têm, acabam se esquecendo de que também são humanos.
Nesse momento, então, quero que pense no quanto tem se maltratado e se interrompido, o quanto tem se negligenciado e condenado, o quanto tem desacredito do próprio potencial e o quanto tem desrespeitado o próprio tempo se exigindo por resultados inviáveis no curto espaço de tempo ao qual você tem se proposto. Consegue identificar essas posturas adotadas por si a si mesmo? E espero que, sim, se sinta culpado por muitas vezes agir de maneira violenta contra aquela pessoa que mais precisa dos seus cuidados. Mas não fique apenas na culpa. Nem se martirize por ela. Acolha essa culpa e se perdoe. Acolha-se. E respeite-se. Torne-se amigo de si mesmo. Você já se deu conta de que o acompanhará para sempre? E, ainda que não tenha a companhia de mais ninguém na hora de morte, será você que estará lá com você mesmo? E, indo mais longe, já pensou que, se houver vida após a morte, lá estará você reencontrando-se consigo mesmo? Que tipo de reencontro será esse? E que tipo de relação será essa que você viverá até o fim da sua vida? Ame os outros, sim. Mas siga o conselho daquele que deu origem ao cristianismo e ame-se. Ele disse: “ame ao próximo como a ti mesmo”. Aqui fica subentendido que é praticamente impossível amar verdadeiramente alguém se eu não me amar antes.
Acolha-se.
(Texto de Amilton Júnior – @c.d.vida)