Uma marca para a vida toda

Seria muito bom que todos nós lembrássemos que, a qualquer momento, podemos cometer um erro que será uma marca para a vida toda. Infelizmente, temos o péssimo hábito de não refletir antes de agir e, devido a isso, só pensamos na tolice que cometemos ao sofrer as consequências. E o pior é que, mesmo depois que nos arrependemos e deixamos de fazer tal coisa, alguém poderá lembrar o que fizemos de errado. Por causa disso, muitos sofrem para refazer suas vidas. Penso nisso quando li o livro Vida de droga, sobre uma jovem que costumava ser de classe média alta e, após o pai perder o emprego e seu padrão de vida cair, fica desiludida e entra por um caminho errado, viciando-se em drogas e chegando ao ponto de fazer furtos e se prostituir. Depois, ela passa pela reabilitação e deixa as drogas e tenta refazer sua vida, porém muitos não acreditam nela e ficam lembrando o que ela fez de errado, o que a faz dizer que não pode passar a vida inteira pagando. Ela reconhece que errou mas quer viver sua vida. Deveríamos estar preparados para o fato de que sempre haverá alguém que jogará nossos erros na nossa cara. É uma atitude pouquíssimo generosa no entanto bastante comum. Um delinquente pode se regenerar e deixar de ser delinquente, só que sempre haverá quem lembre que ele foi delinquente, especialmente se ele já passou pelo processo de ser detido e foi fichado.

Fica muito chato você tentar esquecer o passado e outras pessoas lembrarem do que você quer deixar para trás como se você ainda fosse aquela pessoa que cometeu aqueles erros. Um outro exemplo de pessoa que fala de como o passado pode atrapalhar nosso presente é uma atriz pornô, que disse que, além de enfrentar a depressão por causa do trabalho degradante, não conseguiu encontrar outros empregos porque muitos a apontavam e lembravam o que ela tinha feito. Fica o aviso para quem pensa em entrar no mercado pornográfico: se você se arrepender um dia de ter entrado nesse meio e quiser procurar outro emprego, lembre que isso vai atrapalhar sua vida, além de que, por mais que você se envergonhe do que fez e tente agir como se isso nunca tivesse acontecido, os trabalhos que você fez ficarão registrados e atualmente, com a Internet, alguma pessoa vai ver o que você fez. Uma ex-atriz pornô pode se tornar uma freira ou uma pastora, entretanto os seus trabalhos antigos estão lá, na mídia digital, para que todo mundo veja. Conheço o caso de um ex-ator pornô que fez filmes gay e hoje é pastor e condena o sexo antes do casamento e a homossexualidade. Naturalmente, muitos são os que o chamam de hipócrita e lembram o passado dele. A atriz Cássia Kiss fez um aborto no passado mas disse que se arrependeu e hoje falou defendendo o PL 1904, que equipara o aborto após a 22. ª semana de gestação ao crime de homicídio. Como era de se esperar, não faltou quem lembrasse que ela, que hoje é uma católica ferrenha, abortou no passado, chamando-a de falsa moralista. Não sei o que passa na consciência dessa senhora e por isso mesmo não vou dar minha opinião. Pode ser que ela tenha realmente se arrependido de ter se submetido a um aborto.

Pensei muito em como o que fizemos pode atrapalhar nossa vida ao assistir a um vídeo motivacional no Youtube. Nele, uma moça que ficou famosa no Tiktok é muito arrogante e costumava fazer bullying contra uma colega por ela estar acima do peso. No presente, a arrogante vai fechar um contrato como o rosto de uma propaganda anti-bullying e reencontra a ex-colega, que relembra o que ela fez. Como ela não se arrepende dos seus atos e continua tratando todos como lixo, a ex-colega se vinga, fazendo um vídeo falando do que ela fez. Ao mesmo tempo, outras pessoas fazem um vídeo falando de como a jovem do Tiktok é soberba e trata todo mundo mal. Dessa forma, a moça esnobe perde a chance de fechar um contrato milionário e perde seguidores. Claro que, se ela houvesse se arrependido de ter feito bullying e mudado, isso poderia ter ficado para trás. E, caso ela mude no futuro, não deixará de haver quem recorde que no passado ela costumava ser uma pessoa grosseira e arrogante que olhava todos de cima a baixo.

Se há realmente algo que pode nos marcar para o resto da vida é quando cometemos um crime. Por mais que tenhamos nos arrependido, não dá para desfazer o que fizemos e teremos que viver com o fato de que fizemos o que fizemos. Comecei a pensar nisso ao assistir a um seriado policial que eu adorava quando era adolescente. Neste seriado, um rapaz que está num centro para jovens problemáticos morre de forma misteriosa e dois policiais se infiltram na organização para elucidar o caso. Um dos policiais se aproxima de um dos internos, que é um jovem bastante rebelde que dá muito trabalho para um dos monitores do lugar. No final, o jovem rebelde vai cometer suicídio e está prestes a saltar do despenhadeiro quando o policial que tinha se tornado seu amigo vai conversar com ele e tenta dissuadi-lo da ideia. Ele então confessa que tinha se infiltrado no lugar e matado o jovem morto porque tinha violentado a irmã dele, a qual engravidara e tentara se matar. Os dois policiais e o próprio monitor do qual o rapaz tinha ojeriza o impedem de cometer suicídio e é tocante ver o rapaz chorando e o próprio monitor a consolá-lo e dizer: "Calma, filho, está tudo bem." Depois, os policiais falam que ele tinha passado por uma avaliação psiquiátrica e que tinha enlouquecido. Bem, a que conclusão podemos chegar? Mesmo que ele nunca responda criminalmente pelo que fez, ele terá que conviver com o fato de que tirou uma vida. Isso nunca poderá ser desfeito. Com certeza, ele se arrependeu e carregará isso para o resto de sua vida. Ver esse seriado me fez ver que até mesmo pessoas boas podem cometer um crime que ficará como uma nódoa em suas biografias. Foi a primeira vez que vi que podemos sentir compaixão de quem faz uma coisa tão grave como matar alguém. De toda forma, matar é errado e se alguém chega a esse ponto nunca poderá esquecer o que fez, pois um assassinato sempre causa impactos em várias pessoas.

Enfim, seria ótimo se todos nós pensássemos antes de agir. Todavia, somos seres humanos, imperfeitos e falhos. E seria bom que também nunca esquecêssemos que todo mundo, por mais que tenha errado, se tiver realmente se regenerado, tem todo o direito de reconstruir sua vida.