Conselhos errados
Pais são seres humanos e, mesmo tentando acertar, também cometem erros e podem dar conselhos bastante errados. Um bom exemplo desse tipo de conselho foi o que uma mãe deu à filha. A moça não podia nem mesmo dizer que queria namorar que a mãe falava: "Minha filha, por que namorar? Por que sofrer com homem que não presta?" A filha respondia: "Mãe, se o homem não prestar, eu deixo! Não sou obrigada a ficar com quem não presta." Vejam a resposta da mãe:" Minha filha, é melhor evitar se decepcionar."
Vamos pensar nesse conselho. Quer dizer então que todo namoro que a filha tentar estará fadado ao fracasso? A mãe acha que nenhum homem presta, que qualquer homem é cafajeste? Se for para a filha não namorar porque há homens que não prestam, então seria também para nenhum rapaz namorar até porque sabemos bem que há mulheres que não valem nada. Outra coisa estranha neste conselho é a mãe dizer que a filha pode se decepcionar. Será que a genitora espera que sua filha passe pelo mundo sem sofrer? Ninguém pode esperar viver sem experimentar frustrações. Ninguém pode almejar viver sem sofrer. Todos nós vamos sofrer enquanto formos vivos.
Um outro aspecto a considerar é que todo dito contém vários não-ditos. O discurso da mãe tem muitas insinuações. Primeiro, ela dá a entender que nenhum homem será bom o bastante e também que a filha, além de não ser capaz de identificar homens bons e ruins, não tem competência para superar um péssimo relacionamento e não terá discernimento para aprender com suas experiências e passar a fazer escolhas melhores.
O discurso da mãe é ao mesmo tempo misândrico* e machista. É misândrico porque sugere que todo homem é canalha e que não vale a pena investir em homem nenhum. E também é machista porque dá a entender muito bem que a mulher é um ser naturalmente frágil, incompetente, sem condições de enfrentar os perrengues da vida, ou seja, alguém feito de cristal, que não tem visão para distinguir um homem bom de um ruim nem força para se reerguer após uma relação desastrosa - que afinal é algo a que todos nós, homens e mulheres, estamos sujeitos - como se fosse se quebrar depois de uma decepção. Pelas palavras da mãe, fica subentendido que todo homem é um predador e toda mulher, uma presa em potencial, que devesse evitar os homens para não se ferir.
Perguntemo-nos o que leva a mãe a dar esse tipo de conselho. Ou é uma mulher frustrada que não teve um bom casamento e tem uma visão negativa dos homens ou então não quer que a filha vá viver a própria vida por achar que a moça tem alguma deficiência ou talvez, simplesmente, por excesso de apego. Em todo caso, ela é uma mãe controladora, com uma visão preconceituosa e limitada e nada saudável acerca dos homens. Mães assim prejudicam e muito a vida dos filhos de um modo geral.
*assim como a misoginia é o horror às mulheres, a misandria é o horror aos homens