Eu gostava do fogão a lenha vó

Eu gostava do fogão a lenha vó

Não tinha o barulho da panela de pressão, mas tinha as conversas dos primos até tarde da noite.

Não tinha o chuveiro, mas tinha risadas das marcas de carvão que ficavam no corpo.

Não tinha televisão mas tinha nossas mãos sujas de terra molhada.

Não tinha pão quentinho mas não faltava o café feito no seu fiel coador de pano, ainda sinto o cheiro dos grãos torrados.

Não gostava de entrar no mato para pegar as lenhas mas gostava de me esquentar nele nos dias frios.

Achava irritante ficar afastando a fumaça do rosto mas era divertidamente perigoso brincar com as brasas acesas.

Tinha tanto medo de entrar no galinheiro, mas gostava de descascar a bacia de ovos, aquecendo meus pés enquanto escutava as histórias incríveis da sua vida em Minas Gerais.

Não gostava de carregar baldes para tomar banho, mas gostava de jogar a última canequinha de água na cabeça, me sentia em uma cena de romance na chuva.

Não gostava das brigas com os irmãos quando esqueciam de repor a água nos caldeirões mas amava o chá de erva cidreira feito nos dias chuvosos.

Eu gostava do fogão a lenha vó...

Porque ainda tinha você, com suas músicas, suas risadas, seu acolhimento e seus ensinamentos.

Essa época da minha vida me lembra que às vezes, é tão cansativo, pode haver carrapicho na roupa, olhos vermelhos, calos nas mãos do peso carregado, galinhas correndo atrás de você mas ainda assim, o lado bom existe. O lado do calor da empatia, da fumaça de alegria e das brasas de paixão pela vida.

Com amor

A neta da vó Tereza - A que nunca abriu mão do seu fogão feito de barro e do seu coração feito de amor