Sobre a obra da vida e editoras (parte 2)

[Uma saga literária - Continuação do texto "Sobre a obra da vida e editoras (parte 1)]

Continuando minha saga à procura de uma editora, iniciada no relato do texto anterior de mesmo título (parte 1), uma editora, chamada Dialética, de São Paulo (SP), se mostrou viável, pelo fato de ser especializada na publicação de livros acadêmicos, justamente o gênero em que se classifica a obra que quero publicar.

E teve o mesmo mérito louvável da editora Viseu de solicitar o meu original para avaliá-lo para aprovação. Enviei-o então, embora já um tanto ressabiado por ver meu original tão querido circulando por aí com tanta facilidade.

A aprovação da Editora Dialética veio rapidamente, com os mesmos elogios da Viseu, embora com menos detalhes e mais brevidade:

"UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS MOTIVAÇÕES PARA AS CRENÇAS RELIGIOSAS

A pesquisa de Paulo Tadao Nagata sobre as motivações para as crenças religiosas oferece uma análise profunda e interdisciplinar, essencial para compreender a complexidade desse fenômeno humano. Com clareza e rigor acadêmico, a obra estimula diálogo intercultural e a reflexão crítica sobre a religiosidade, merecendo ser publicada pela Editora Dialética para ampliar seu alcance e impacto. "

Embora o valor dos serviços cobrado pela Editora Dialética, de R$ 1980,00 (para elaboração da capa, diagramação, cadastro de direitos autorais ISBN, impressão sob demanda, formato em e-book e divulgação e colocação nas grandes plataformas de venda de livros), fosse bem inferior ao da Editora Viseu (que era de R$ 4500,00), incomodou-me a simulação do preço final de venda do livro para o consumidor, de R$ 85,00. Preço que achei alto demais para o livro de um iniciante sem nome no mercado.

Depois da avaliação meticulosa e elogiosa que a Editora Viseu me enviou (reproduzida integralmente no texto anterior), estava já inclinado a fechar o contrato com esta editora porque, além de ter reduzido o valor (era inicialmente de R$ 4700,00), ela aumentou minha participação nos royalties, pelo primeiro ano do contrato, de 50 % para 75 % do lucro líquido do preço final da venda do livro para o consumidor, além de me fornecer 20 exemplares do livro impresso como cortesia. Ademais, o preço final de venda do livro foi previsto em R$ 56,90, bem inferior ao da Editora Dialética.

Havia se passado em torno de duas semanas desde o último contato com a Editora Dialética e eu já praticamente havia me esquecido dela e decidido fechar com a Editora Viseu, quando recebo um e-mail da minha contato da Editora Dialética, me parabenizando porque minha obra fora avaliada também pelo editor-chefe e elevada à condição de destaque do mês. A avaliação do editor-chefe veio com uma carga bem mais consistente de elogios do que a anterior, como segue:

"EDITORA DIALÉTICA - PARECER DO CONSELHO EDITORIAL SOBRE A OBRA 'UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS MOTIVAÇÕES PARA AS CRENÇAS RELIGIOSAS'

A pesquisa conduzida por Paulo Tadao Nagata apresenta uma abordagem perspicaz e abrangente sobre as motivações que subjazem às crenças religiosas. Ao explorar esse tema complexo, o autor lança luz sobre os aspectos psicológicos, sociológicos e culturais que influenciam a formação e a manutenção das crenças religiosas em diferentes contextos sociais. Sua análise profunda e multifacetada oferece uma visão enriquecedora sobre um fenômeno fundamental na experiência humana, contribuindo para o avanço do conhecimento nas áreas de psicologia, sociologia e estudos religiosos.

Nagata demonstra um domínio impressionante sobre a vasta gama de temas e perspectivas que permeiam o estudo das crenças religiosas, integrando insights de diversas disciplinas para construir uma análise holística e interdisciplinar. Sua pesquisa vai além das explicações superficiais, adentrando nas complexidades das motivações individuais e coletivas que sustentam as práticas religiosas ao redor do mundo. A capacidade do autor em articular conceitos teóricos com exemplos concretos e estudos de caso enriquece a compreensão do leitor e estimula reflexões profundas sobre a natureza da fé e da religiosidade.

A relevância e atualidade do tema abordado pela pesquisa são incontestáveis, considerando a persistência e influência das crenças religiosas em diferentes sociedades e épocas históricas. Em um mundo marcado por diversidade religiosa e pluralidade de cosmovisões, compreender as motivações por trás das crenças religiosas é essencial para promover o diálogo intercultural e a tolerância religiosa. Nesse sentido, a Editora Dialética tem a oportunidade de contribuir para esse debate ao publicar esta pesquisa, oferecendo uma obra de referência que estimula a reflexão crítica e o entendimento mútuo entre diferentes tradições religiosas e visões de mundo.

Portanto, recomendamos enfaticamente que a Editora Dialética considere a publicação imediata deste trabalho sob a forma de livro. Ao fazê-lo, a editora não apenas reconhece o valor e a relevância da pesquisa de Paulo Tadao Nagata, mas também atende à demanda por obras que abordem de forma aprofundada e esclarecedora um tema tão fundamental para a experiência humana. A publicação desta pesquisa contribuirá para o enriquecimento do debate acadêmico e para uma compreensão mais ampla e inclusiva das crenças religiosas e suas motivações.

Prof. Dr. Rafael Ferreira

Editor-chefe"

Ao receber esta avaliação bem mais alentada e enfática do editor-chefe, fiquei mais feliz por ter vindo de uma pessoa formada na academia em um alto grau. Talvez ele fora instado pelo conselho editorial a ler a obra por ter sido considerada a obra de destaque do mês, conforme me informou a consultora da editora com quem mantenho contato. Mais razão passo a ter, apesar das minhas dúvidas a respeito, para achar que a obra tem mesmo alguma relevância. Mas, como já disse, acho que o livro só será mesmo testado quando o público, principalmente o acadêmico, o receber. Ou quando o inscrever em algum concurso literário de prestígio.

Essa desconfiança tem um motivo. A expectativa pelo resultado do lançamento do livro, o primeiro a ser publicado na minha vida, gera em mim dois sentimentos totalmente opostos alternando-se no tempo conforme os pensamentos de euforia ou depressão que me assaltam o espírito, como se estivesse num estado mais atenuado de transtorno bipolar.

Um estado talvez semelhante ao do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein quando, jovem de 22 anos, ao fim do primeiro semestre em Cambridge, para onde fora estudar com o filósofo britânico Bertrand Russell (que conta a cena no seu livro "Retratos de Memória"), fez a este uma inusitada pergunta: "Você poderia me dizer se sou um completo idiota ou não?". Russell respondeu-lhe: "Meu querido amigo, não sei. Por que você me pergunta?". Wittgenstein disse: "Porque se eu for um completo idiota, me tornarei um aeronauta; mas se não for, me tornarei um filósofo". Russell confessa que, durante aquele semestre, tivera mesmo dúvidas sobre se estava diante de um gênio ou de um excêntrico. (1)

[E também a minha sensação, em relação à minha obra da vida, parece ser a do capitão Frederick Wentworth, no romance "Persuasão", de Jane Austen (2), ao recordar o seu início de carreira num velho navio: "Ah! Para mim aquele era o meu 'Asp' querido. Fez tudo o que eu quis. Eu sabia que isso aconteceria. Sabia que ou íamos a pique juntos ou aquele navio faria a minha fortuna."]

Isso porque, em um momento, lembrando-me dos elogios aos meus trabalhos dos meus professores dos cursos de filosofia e mestrado em filosofia, durante o seu transcurso, principalmente dos que avaliaram a dissertação do mestrado em minha defesa dela e dos avaliadores das editoras Viseu e Dialética, sinto-me otimista quanto à recepção que o público dará ao livro.

Por outro lado, em outro momento, quando leio artigos de jornais de meus colunistas preferidos ou livros de autores que admiro, com grandes insights de que me julgo incapaz, deprimo-me por suspeitar que meu talento está muito aquém dos deles e o meu texto seja apenas uma mixórdia de conceitos confusos. E que, ao fim e ao cabo, ele será simplesmente jogado na montanha interminável dos milhares de textos medíocres e anônimos que se amontoam diariamente no lixo esquecido da história da literatura.

Depois de tanto tempo (13 anos) e, durante seu percurso, um esforço intelectual exaustivo, tal resultado teria o efeito de uma decepção tão profunda a ponto de provocar, de fato, algum distúrbio psicológico. É esse o meu temor. Daí as minhas hesitações até agora para decidir, pelo receio de que a editora enfim escolhida não se mostre competente o suficiente para potencializar ao máximo a possibilidade de que, caso o texto tenha realmente alguma importância, ele chegue mesmo ao grande público.

(1) BBC News Brasil. "Popper contra Wittgenstein: os 10 minutos do confronto explosivo entre dois gigantes que marcaram a filosofia". (Site https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgrwexgenxro, consultado em 19/06/2024).

(2) Austen, J. "Persuasão". Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010. (p. 64)

Paulo Tadao Nagata
Enviado por Paulo Tadao Nagata em 19/06/2024
Reeditado em 07/09/2024
Código do texto: T8089134
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