Quando eu era criança, há 40 anos, me lembro do tanto que me divertia entre os amigos, correndo atrás de doces em dias de São Cosme e Damião (preparar os saquinhos, escolher os doces, uma interação familiar maravilhosa, depois cada um mostrando o que tinha dentro do saquinho que pegou, a troca de doces entre as crianças), Halloween, carnaval e todo mundo falando de como seria sua fantasia, festas juninas e barraquinhas e danças e comidas típicas, era uma interação incrível na construção de boas memórias! Toda essa diferença cultural e de opiniões calibraram nossos olhares e corações, o equilíbrio emocional, aumento da nossa criatividade, um excelente exercício de interação social, sobre o respeito (que respeito se aprende dentro da bolha da intolerância?). Não me lembro de ficarmos pensando na religião de um ou de outro (nós, crianças, nem falávamos sobre isso, queríamos brincar, ver quem pegou mais doces, roupas e danças). Mas uma coisa era gritante entre nós crianças: as poucas crianças que ficavam trancadas dentro de casa e tristes porque não podiam se juntar com as demais em datas festivas que não fossem de sua religião ("sua" porque começa escolhida ou imposta pelos pais). Achávamos isso sem fundamento. Víamos algumas carinhas tristes pelas janelas vendo as outras crianças brincarem. Isso era algo que reparávamos e muito. Isso era algo que não entrava em nosso entendimento e corações. Já repararam na palavra c(oração)? Se não envolve amor, tá longe de ser útil, benéfico e de boa aplicação no mundo. Um coração que bate apenas em causa própria dentro do corpo humano, mata a todos os demais órgãos (inclusive a si mesmo). A interação é fundamental para o bom funcionamento de todos os órgãos do corpo. Um cérebro também não sobrevive sem o oxigênio enviado pelo coração. No corpo social isso também deveria ser uma verdade. Continuando...
Criança aprende sobre segregação, preconceito, intolerância, fanatismo religioso é com o adulto!
Quanto mais o tempo passa, mais intolerante e polarizada vemos determinadas religiões e pessoas (isso no decorrer da história, mas infelizmente, ainda nos dias atuais, e, insuportavelmente, também em opiniões políticas). A pessoa não é obrigada a levar para dentro de casa, algo que ela não crê, até aí tudo bem! Mas levar, desde muito cedo, para dentro do coração de cada criança coisas como " isso é coisa do demônio", "isso é coisa de gente atrasada", "nossa religião não permite isso" , "não quero você brincando ou andando com filho(a) de fulano(a) porque é de direita ou esquerda", etc., é algo que vai contra a maior essência que deveria existir em toda e qualquer crença, religião, posicionamento político: amor! Ou: a tão falada democracia. Até mesmo inteligência emocional. O alto custo da intolerância é a guerra entre nações: hecatombes existenciais. Uma ineficiência ao desenvolvimento humano.
Ninguém é obrigado a frequentar a igreja do outro, a opinião, ateu ou não, concordar e nem a morar dentro das convicções políticas do próximo. Estamos falando de democracia. Palavra tão difundida e bem pouco aplicada além de sua teoria. No diálogo, então, passa longe!
Eu não tenho nenhuma paciência para qualquer fanático/intolerante. Aliás, eu admiro profundamente toda e qualquer pessoa que está sempre questionando suas próprias crenças e que não tente empurrar goela abaixo (principalmente de uma criança), escolhas subjetivas que são pertencentes ao domínio de sua consciência. Deixe o outro desenvolver a sua e de maneira livre, crescer de maneira que possa exercitar e aprender sobre a empatia. Deixem as crianças serem crianças! Paz no mundo t(am)b(ém ) se faz dentro de casa (aliás, é neste espaço que ela verdadeiramente começa).