Pega-pega

O amor é uma partida de pega-pega em meio a um roseiral. À primeira vista, essa cena pode parecer inocente, mas trata-se de um jogo, com suas regras e desafios.

A brincadeira começa. Risos soltos, alegria fugidia, corações acelerados. A ânsia da captura entrelaçada com a beleza das rosas e o receio dos espinhos. Sabemos que eles existem, mas esperamos que não nos furem.

Uma alegria fulgurante explode ao nos aproximarmos do objeto de desejo. O calor da mão quase alcançada. O querer ardente de ser pego. E, de repente, um movimento em falso, um empurrão mal calculado.

Os espinhos rasgam a pele. Um grito! Um susto! Algo a ser aceito, esquecido. O ocorrido já passou.

Não há tréguas, nem pausas. No momento em que um desiste, ambos perdem. Mesmo feridos, persistem. Apesar da dor sutil, insistem. Correm, embriagados pelo perfume das flores, corpos quentes que mal se percebem.

Quantas vezes as feridas são ignoradas? Quantas marcas não são feitas até serem confrontadas?

E quando alcançamos o outro, alívio momentâneo. Sorriso compartilhado, olhares cúmplices, sensação efêmera de vitória. Agora, é a nossa vez de fugir, de correr para não ser pego.

De repente, o crepúsculo. Um vento frio. Concentra-se mais nos espinhos do que nas rosas. Eles são mais importantes agora, mas é difícil evitá-los na escuridão. Arranhões tornam-se perfurações, o sangue quente brota das feridas.

Cansados, os dois, mas não podem parar. "Por que continuar?" Nos perguntamos.

"Ao menos estão acompanhados um do outro", respondemos.

"Não desistam." Insistimos.

A corrida continua em desespero, dúvidas e medos, sangue e lágrimas, espinho e dor.

Conhecemos as feridas e os caminhos que as causaram. Sabemos que os arranhões se cicatrizam.

De repente, o corpo aprende. O toque suave que evita as pontas afiadas, quase instintivamente, como uma dança. A esperança renasce.

"A tempestade vai passar" dizemos a nós mesmos.

Quanto mais conhecemos nossa dupla, quanto mais caminhos percorridos em conjunto, menos nos machucamos.

Nos encontramos e nos perdemos entre a beleza das rosas e a dor dos espinhos.

O amor, um campo minado, onde rimos e sangramos, mas onde sempre há esperança.

Que a beleza supere a dor.

Mozart Sávio
Enviado por Mozart Sávio em 15/06/2024
Reeditado em 23/06/2024
Código do texto: T8086222
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