Depressão não diagnósticada
Quando o que sentimos é maior do que o que podemos descrever ou quando apenas não sentimos nada e nos tornamos vazios o que sobra é o silêncio.
O sentimento é de que você tem o potencial para resolver as questões da sua cabeça, mas simplesmente não consegue.
Por isso não conseguimos falar. E além disso escondemos muito bem, tanto é que meus amigos mais íntimos não perceberam nada.
Tudo que eu queria era que alguém fosse me ajudar naquele momento interno horrível, mas ao invés disso os amigos estavam longe e os familiares se afastaram.
É incrível como alguém da sua própria família não percebe que você está agindo estranho por causa de alguma razão maior e pior e ao invés de apontar e brigar não procuram entender e ajudar.
Não tenho ideia do que me levou a passar por esse momento, na verdade eu tenho ideia sim, mas elas parecem não ser suficientes diante do que eu senti.
Era como se nada mais tivesse importância ou propósito. Era como se eu detestasse tudo sem nenhum motivo aparente. O vazio era o que mais me assustava. Eu sentia um vazio no peito e podia apostar que aquilo estava me consumindo por dentro. E minha família de parte de mãe só me apontava. Me estressava. Não me entendia e ainda brigava comigo, e quando eu reagia me fazia sentir mal por. "Você é tão exagerada", "Você está errada", "Você tinha era que me pedir perdão". E eu acreditei. E me sentia a pior pessoa do mundo por ser quem eu sou e cometer as ações (reações) que tive.
Acredito que influenciar uma pessoa a se odiar é um dos atos mais horríveis que alguém pode cometer. Você não foge de você, quando você se odeia você está lidando com alguém que não pode ser mudado literalmente e isso é muito doloroso. Não se sentir confortável na própria pele é cruel, dói e demora para cicatrizar.
Agora, eu consegui estancar a ferida com um pano e a medida em que vai parando de sangrar eu vou melhorando mais e mais.
O que eu sentia antes era como se eu estivesse com um machucado bem grande aberto na minha perna, que tivesse me impossibilitando de andar e que sangrava a medida com que eu ia gritando mais e mais de dor. Só que esse machucado era invisível e toda vez que eu tentava pedir ajuda, que me sentia exausta demais pra fazer qualquer coisa, que estava constantemente com sono, as pessoas que eu mais amava falavam "Você não tem nada" "Você não é grata pelas coisas que tem" "Você não dá valor pra sua família". E como resposta eu escondia o machucado e tentava fingir que não estava mais sentindo dor. Mas ele estava lá, e cada vez que alguém o menosprezava em mim, era como se fosse uma facada no centro dele, onde tudo doía.
Hoje, eu sinto como se o machucado ainda estivesse aqui, mas em processo de cicatrização. Quando eu tento andar mais do que posso no momento, ele dói, porque ainda não cicatrizou e têm dias que ele me incomoda, mas eu sei que é a coceira que dá para a ferida se fechar. E a cada dia que passa eu sinto que estou melhorando mais e mais e essa é uma das melhores sensações do universo.
Eu escrevo muito nessas notas do meu telefone e não tenho o propósito de mostrar para ninguém os meus textos. Mas caso eu veja a necessidade, caso eu passe a mostrar a minha escrita que para mim é terapêutica para mais pessoas e essas pessoas estejam passando por isso eu quero te parabenizar por ainda está aqui. Por não desistir. E, mais que isso, quero que saiba que eu te vejo, eu entendo a sua dor, eu senti ela e sei o quanto é horrível.
Você não está doido(a). Você não é uma pessoa difícil. Você só reage ao que é imposto a você. Sua família não sabe de todas as respostas, como a gente achava que sabiam quando eramos criança. Hoje eu te acolho da mesma forma que tive que fazer comigo mesma, no silêncio da madrugada e sozinha para que assim eu pudesse me curar e sobreviver. E espero que você se acolha também.