O corpo que somos

Quando foi a última vez na qual você se olhou no espelho? Mas não me refiro àquela olhadinha rápida apenas para retocar a maquiagem ou levantar o topete. Refiro-me à uma contemplação e visualização serena, profunda, longa do seu corpo por inteiro. Quando foi a última vez na qual você tocou o seu rosto? E, novamente, não me refiro a algo efêmero e superficial, apenas para espalhar rapidamente o protetor solar porque já está na hora de sair para o trabalho. Refiro-me a um toque singelo, curioso, atento à textura de sua pele, às sensações por passear os dedos sobre ela. Quando foi a última vez na qual você se deu um abraço ao invés de esperar pelo abraço de outro corpo? Você já se deu conta do quanto pode ter andado desconectado daquilo que é e para sempre será seu? Porque é o que tem acontecido. Temos estado desconectados de nossos corpos, de nossas sensações e, por consequência, de nossas necessidades e desejos. É como se estivéssemos alheios a nós mesmos. Talvez nem nos reconheçamos e já não saibamos dizer quando estamos com dor ou quando estamos com prazer. Isso porque temos nos anestesiado tanto, distanciamo-nos tanto de nós mesmos, que já não conseguimos reconhecer a nossa casa.

“Seu corpo é quem te permite viver e te faz forte para atravessar tanta coisa. Trate-o com mais respeito” (Autor Desconhecido)

A questão é que você não tem um corpo. Você é um corpo. Você é um corpo no mundo, que se relaciona com esse mundo, que é influenciado pelo mundo e a ele influencia. E a forma como tem lidado com o seu corpo diz ao mesmo tempo sobre a forma como tem lidado consigo mesmo. Se mal olha no próprio rosto e passa o dia sem perceber os próprios pés tocando o chão, será que consegue reconhecer o que se está passando em seu coração ou angustiando a sua mente? Se mal percebe o corpo que é, será que tem noção das vontades que têm? Se mal respeita a casa onde habita, será que consegue respeitar o direito de existir como melhor lhe aprouver? Questionamentos complexos, eu sei. Mas necessários. Necessários para que reestabeleçamos a conexão conosco mesmos com o objetivo de vivermos vidas mais autênticas e verdadeiras. Porque em meio a essa desconexão generalizada temos nos servido daquilo que vem de fora indiscriminadamente. Não que devamos viver como plantas e aprender a fazer fotossíntese. Pelo contrário. O mundo que nos cerca tem muito a nos oferecer. Cabe a nós a discriminação entre o que nos é nutritivo e o que nos é tóxico. Mas como faremos tal diferenciação se nem sabemos quais são as nossas verdadeiras necessidades e passamos a viver pautados pelo que dizem que deveria ser a vida?

Reconecte-se com o seu corpo.

Reconheça-o.

E, assim, reconecte-se consigo mesmo.

Reconheça-se.

(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)