Chuva, melancolia, saudade, apatia, luto.

Cheguei à conclusão de que a solidão era como uma tempestade que se instalava silenciosamente em meu coração enquanto observava as gotas de chuva dançando freneticamente na vidraça. Cada gota que caía do céu parecia carregar um fardo, um eco do meu próprio isolamento. Todo o meu ser foi coberto por um som lindo e triste que ecoou meus pensamentos solitários em perfeita harmonia enquanto a chuva caía.

Ocasionalmente, eu me perguntava se as nuvens que derramavam lágrimas sobre o chão entendiam o quão solitário eu estava. É como se o cosmos estivesse tentando me explicar e tranquilizar através desses granulados celestiais. Assim como a profundidade da minha própria melancolia permanecia incompreensível para qualquer um que tentasse compreendê-la, as nuvens negras e intimidantes no céu guardavam segredos que eu nunca seria capaz de descobrir.

Notei uma imagem que parecia refletir minha mente fragmentada enquanto eu considerava a chuva através de meu reflexo distorcido no vidro distorcido. Era como se eu estivesse vendo o mundo lá fora e o turbilhão de pensamentos e emoções que agitavam dentro de mim quando espiei pela janela. Meu rosto parecia estar faltando peças de um quebra-cabeça na janela, uma imagem incompleta que não consegui montar. Parecia representar meu espírito desarticulado. Era como se, ao olhar pela janela, eu também estivesse olhando para o turbilhão de sentimentos e pensamentos que se agitavam dentro de mim, além do mundo exterior. As feições nebulosas do meu rosto na janela eram como pedaços de uma imagem incompleta, que infelizmente não poderia ser restaurada.

A chuva, com sua beleza efêmera, me lembrava da transitoriedade da vida e de como a solidão era uma companheira constante em nossa jornada. Assim como a chuva eventualmente cessaria e se transformaria em memórias, talvez se transformando em algo mais, ou talvez desaparecendo como uma nuvem dispersa pelo vento.

Senti que estava ficando cada vez mais perdido em meus próprios pensamentos enquanto a chuva continuava a cair, como se eu estivesse preso em um mar de melancolia. Mesmo nos momentos mais calmos da minha vida, a solidão era como uma sombra que me seguia. Era um peso que eu tinha que suportar emocionalmente, que parecia ficar mais pesado a cada dia. Desde o maldito dia em que tudo aconteceu, não acredito mais que seja capaz de sorrir verdadeiramente ou mesmo que tenha o direito de fazê-lo.

Mesmo estando sozinho, estava sombrio, mas não pude deixar de notar uma certa beleza na melancolia da chuva. Como se estivéssemos de alguma forma conectados ao compartilhar essa sensação, parecia que a natureza também estava solitária e compartilhou isso comigo. Cheguei à conclusão de que havia um tipo de beleza a ser encontrada mesmo na solidão dos céus escuros da cidade naquele exato momento em que continuei observando a chuva. Porém, somente aqueles que estavam dispostos a olhar com os olhos abertos poderiam ver essa beleza.

A sala vazia dentro da mansão parecia uma paisagem de fantasia. Os quartos vazios e os armários silenciosos serviam como testemunhos mudos dos tempos em que estas áreas estavam cheias de risos e conversas. O único som além do farfalhar da chuva que agora parece perturbar o silêncio é o da minha própria respiração; funciona como um lembrete constante da ausência das pessoas que anteriormente enchiam estas paredes de vida e alegria.

Os objetos e movimentos, que outrora foram ricos em significado e história, parecem agora ter desaparecido num mar de apatia. Os retratos nas paredes capturaram memórias de momentos fugazes, bem como lágrimas congeladas de alegria. A mansão foi transformada de um quarto vazio em um labirinto substancial, com cada quarto servindo como uma cápsula do tempo do passado e uma porta de entrada para memórias que ainda existem.

A ausência de sua mãe era como uma ferida aberta que ainda não havia fechado totalmente, uma ausência palpável que pesava sobre cada cantinho, como se a própria estrutura da casa estivesse de luto pela partida daqueles que a chamavam de lar. Era um espaço vazio que não podia ser preenchido com móveis ou decorações; só poderia ser preenchido por vozes e risadas silenciosas. Um manso outrora vibrante e cheio de vida era agora um testemunho silencioso da marcha imparável do tempo e da fragilidade das conexões humanas, as mesmas que costumava desprezar.

Portanto, cedi à chuva e à minha própria solidão, me permiti escorregar para baixo dos cobertores novamente, apenas para tentar fugir da realidade, confiando que esta tempestade interna acabaria por passar também. À medida que a chuva continuava a cair, consolei-me com o pensamento de que, mesmo na solidão, havia uma beleza fugaz e especial para admirar, uma beleza que só era visível quando olhávamos para dentro e para fora, com o coração aberto e ávido.

Amábile Araújo
Enviado por Amábile Araújo em 10/06/2024
Código do texto: T8082919
Classificação de conteúdo: seguro