MORRER A CADA DIA E PARA CADA DIA
Morrer para o dia d’ontem ... (que não mais existe)?
Oh! que bênção!
E deste modo, morrer para todos os [passados] dias
Quem o conseguirá (ou o poderá)?
Não sei!
Mas, se não quero morrer para o dia que não mais existe
qual a razão d’eu querer mantê-lo salvo qu’existe [senão] para mim?
E no vai-e-vem dos dias nos perdemos...
Para toda novidade haverá um’hora que não mais nova será
E levará para bem longe d’alguém o seu encanto e o prazer que [a ele] lhe deu
E todas rapidamente passam [sem que se perceba]
A se concluir que toda novidade em pouco tempo envelhece
E morre...
O anterior dia existirá para mim enquanto eu estiver em contato co’ele
A estar "mentalmente" co'ele (ou ele em mim)
E como não abandono o passado, co’ele estarei sempre
Ao qu’ele viverá em minh’alma
A julgar ser assim pela simples razão de qu’eu não quero morrer par’ele
E, deste modo, mato o presente, assassinando, portanto, o dia d’hoje
E nest’hora fico-me a perguntar há quanto tempo faço isto
Oh! Inutilmente eu vivo [aqui]
Pelo qu'eu vivo ... perdendo tempo
(Perdendo meu tempo ou o tempo que de si mesmo se deu para mim!)
Os tempos vivem em conflito comigo, é verdade!
Da preferência que tenho pelo anterior dia, a s’entender que [eu] muito odeio
o [dia] presente
(O pedaço de tempo [diário] que o próprio Tempo me deu como um sacro "presente")
Ai! Por que assim o faço?
Quem sabe, visto que preso estou no passado
Já qu’em tal grau a ele me apego [e sou-lhe "fiel" escravo!]
Tudo passa no espaço d’uma vida que está sempre a prosseguir e, portanto, a passar
E somos no tempo como sombras de nós mesmos pelo que de nós [ainda] nos sobra
E então, desde quando [nos] deixamos de "existir"?
Desde o momento em que nos separamos de nós mesmos
Pelo que nos esquecemos de “viver acordados”
E vivemos como qu’enjaulados dentro de um sonho
Ou como alguém a estar em um coma profundo
Oh! Felizes os que romperam com os dias que “já aconteceram” em suas vidas
Dias estes que processados foram pelo que “já ocorreram”
E que não mais voltam
Desatadas almas que por assim serem são também felizes
Quem poderá s’entregar por inteiro ao dia d’hoje senão aqueles que
coragem tiveram de morrer para o dia d’ontem?
Todavia, (oh, que pena!) ... são poucos!...
09/06/2024
IMAGENS: FOTOS PESSOAIS