luto
LUTO
Vejo este luto cor rubra,
Abrindo-se em meu coração,
Expandido-se no meu universo que era tranquilo,
Chorar pelo o que não fiz,
Seria o mesmo que dizer: fiz!
Seria aceitar meu sofrimento
Como forma de punir minhas atitudes,
Não, não posso querer a solidão,
Não posso querer chorar sempre
Dentro do meu coração aflito...
Cortejo meu espírito, neste funeral de lembranças,
Onde tudo o que sonhei, morreu, simplesmente, morreu!
E este luto em que vivo,
Negro, dentro do meu silêncio...
É como se tivesse fome e sede de amor,
E não houvesse mais amor na terra,
É como ver a guerra nascer em seus pequenos futuros que ficam,
É como se eu pudesse dizer: errei!!!
É um luto de quem vive,
E ao neste luto, viver, procuro morrer
Para não ver-me assim!
Nesta vida, cheia de metáforas,
De versos sem rimas,
De doentes psiquicos,
É como ver a química diluir a carne,
E feri-la como lepra, que não tem mais cura,
É como caminhar no deserto em busca de água,
E nos nordestes da vida, procurando plantar
O que jamais vai nascer...
É perecer... perecer assim,
Neste luto que vive em mim,
Impedindo que eu morra,
Só para viver assim...
Clamando, rogando, chorando,
As má- sortes que tive, porque busquei ter...
E ao morrer neste luto, encarcerado...
Procuro formas e fórmulas, para sobreviver,
Para entender que o perdão existe, é para quem peca,
E se ao amar você, pequei!
Então não devo me redimir,
Nem concertar o que não estraguei,
Quero pertencer ao meu luto,
Que por mais que tamanho absurdo, existe!
Que nasce nesta voz triste,
De quem morreu, sem sepulcro,
Sem sequer ouvir o cantar da aurora,
De quem outrora, amou todas as coisas da vida,
Mas, que a nada pertenceu...
Prometi ser livre,
Porque da minha liberdade
Poderia discernir o ódio do amor,
O pecado do perdão,
E este luto, vive dentro de mim,
Neste aceso infinitamente escuro
No, jamais ter sido inteiramente de alguém,
No furto de almas e sentimentos que se perdem,
Nos momentos em que dizer não,
Era está apto a acreditar no sim...
Mas este luto, que reside em mim
Fez com que eu fosse
O maior de todos os patriotas da solidão,
O mais louco e insano ser, que aqui já reinou,
E se devo morrer assim, por amor,
Amarei também o luto, de morrer comigo,
O sentimento puro e bandido,
De quem cortou a pele da alma,
Em olhar de recusa e em sonhos de valsa,
Dançarei todas as canções que parecerem comigo,
Pensando estar em teu ombro,
Que jamais foi meu amigo...
Assim, devo ficar assim
Antes, agora e depois
Dos meus milhões de anos...
Pois a cada segundo que morri,
Em outro segundo, também nasci...
Somente para entender que ao amar você,
Fiz luto inteiro de mim....
Del Dias