Conheci uma senhora com voz de bronze e angústias presas na garganta. Além de mim, muitos outros na fila, todos recompondo a paciência. Muitos querendo apenas o silêncio, mas eu estava cúmplice da conversa, era uma senhora muito interessante. Tecia com cuidado cada memória revisitada no canto da sua cabeça, imagens que invadiam a minha tarde. Histórias simples, sem o rigor da pompa, e todo tumulto parecia um silêncio. Nós duas conversávamos, sumidas no meio da fila. Era uma linguagem de asas que falavam lúcidas, e, sem perceber, de uma força humana de quem acabara de nascer para a sua primeira manhã, de tão pouco tempo nesse mundo (apesar de não).
Com uma insaciável sede de falar da escola, dos netos, dos filhos e do tédio armado quando estavam longe, tudo com o rumor de uma tempestade caindo. Quanto a mim, respondia com o mesmo entusiasmo ao viajar na palavra dela. E tudo que agora eu desejo é viver esse tanto!