Minhas mãos acumulam argila para o desencanto dos olhares de algumas amigas. Não entendem, com as mãos vazias de flores e unhas bem feitas, que a extrema vaidade é a pobreza disfarçada. `A força de um entusiasmo que só eu entendo, encontro-me, outra vez, no ponto de primavera.
Ainda que ferida, volta e meia, pela vida, num deserto que é só meu, reacendem em meus braços a natureza, em seu riso forte de cores e cheiros, alheia ao emparedado do mundo. Feliz e imprecisa, nela me refaço, pequena entre as plantas, onde tudo me parece mais poesia do que na tragédia cotidiana imersa em cabides de lojas.
Me sinto ilha, penhasco, entre o sol e a sombra, conjugada entre pedras, desatada entre raízes, sem roteiro e um tanto perdida, diante agora de uma coruja e uma mata imensa. Celebro o meu sacrifício entre a solitude e o silêncio, onde a minha vida é um mosaico confuso e indefinido como o universo onde o caos modula uma orquestra.
Quem me entende?