PECCATUM
PECCATUM
Eu queria uma noite com vinte e quatro horas, um dia inteiro às escuras, sem sol, sem luz. O breu da madrugada pode não ser bom conselheiro, mas é um cúmplice confiável.
Eu queria ler todos os livros, ouvir todas as músicas e folhear álbuns de família. Tentar encontrar entre histórias, melodias, letras e fotografias algo que desse identidade a alguém que nunca se expôs, mas sempre existiu.
Eu queria encher minh’alma de vidas vividas em lugares distantes e em épocas remotas, para saber se os meus pecados se repetiriam e se seriam capazes de me reconhecer.
Queria depois viver novas vidas, vidas virgens, que ainda não tivessem feito circular uma gota sequer de desejo em suas artérias, que seu corpo e sua pele ainda não houvessem sentido e transpirado nenhuma forma de excitação para saber quem depende de quem, a vida do pecado ou ele dela.
Augusto Serra