Os povos originários, nossas soberbas e nossa redenção, é possível?

Para vocês que esqueceram o que fizeram

Eu vos lembro que antes de chegarem aqui,

era tudo verde e a água era cristalina

Nos rios tomávamos banho e a água matava nossa sede

Os peixes dançavam até nossas cangaias e a carne saciava a fome, não contaminava o sangue.

Com a vossa chegada, homens excelsos e sabedores das ciências, descobrimos as doenças e a inveja. Descobrimos que novas possibilidades não estavam mais no reconhecimento do outro como nosso igual, mas, vimo-lo um estranho e concorrente. Na possibilidade de confronta-lo, construimos fortalezas e armamos exércitos. A guerra nasce e é o nosso vizinho o inimigo. Esquecemos nossa origem comum, esquecemos que novas relações, mais que parecer um novo obstáculo, reabre outros canais de diálogo e com isso, ganhamos todos nós quando se entende a vivência coletiva o nascedouro de novas conquistas. O sonho da convivência rompeu-se, nada mais foi o mesmo. Esquecemos nossas semelhanças, realçamos as diferenças para justificar o ataque.

Vivíamos num estado de absoluta graça, nada era de alguém, tudo era de todos porque a terra e os rios e os mares são de todos. Não havia o "direito" de posse, não havia posse. Nada tinha dono, todos eram donos. Um paradoxo? Não é um paradoxo. Trata -se, apenas, do reconhecimento, mútuo, de que quando tudo se compartilha, tudo é de todos, e nada é de ninguém. Assim é, assim deve ser.

Viver em absoluta comunhão, é isso que significa viver convivendo, sem sobressaltos, sem interlúdios, sem sensações de perda. Viver para e com o outro, companheiro, caminhar junto, lado a lado, sem distinção, sem disputa por espaço, eis a máxima razão da existência. Existir e co-existir, sem separação.

Um projeto? Que seja. Se só um projeto, seja um sonho, um de vir, que sejam tantas as possibilidades, não importa. Importa ter em mente as portas abertas, as janelas abertas, sem tranca, sem chave.