Em Busca do Sentido da Vida: Quem sou eu? Um eu fabricado?!
Continuando a série "Em Busca do Sentido da Vida"...
Na educação tradicional estudamos muito sobre coisas que "estão fora" de nós. Porém, é bem raro o ensino de saberes do tipo "Conheça você mesmo". Na própria vida prática aprendemos a viver observando os exemplos de outros. Somos adaptados para viver em um ambiente social, que nem sempre é o melhor local para desenvolvermos todas as nossas potencialidades. O peixe seria um inútil se exigirmos que voe, todavia seria reconhecido como um gênio nadando no mar. Sem dizer que nosso ambiente pode ser tóxico e interessado prioritariamente em nos automatizar e nos utilizar como instrumento para objetivos que não são realmente populares (controle social). Quando oferecemos ao frango o prazer do milho para que ele cresça e ganhe massa corporal, por um momento talvez este frango sinta que é cuidado e protegido. Porém, não estamos interessados se ele está vivendo sua vida plenamente, mas sim em utilizar ele como alimento. Muitas vezes sequer damos a ele uma morte respeitosa sem dor.
Pensar sobre si mesmo é quase um luxo. Quase sempre estamos automatizados, distraídos, traumatizados, padronizados e conduzidos como animais para o abatedouro. E as maiores iscas são o prazer, o imediatismo, o conforto, o comodismo, o medo e a falsa sensação de controle e segurança. A maioria das pessoas gasta todo seu tempo e energia cuidando quase que exclusivamente de sua subsistência, muitas vezes a custo da própria saúde no longo prazo. Estão fadigadas e por isso delegam (terceirizam) respostas para perguntas e escolhas fundamentais que mudariam radicalmente a vida. Neste contexto, a verdade pode ser validada como o comportamento da maioria ou as palavras de pessoas consideradas relevantes. Exemplo, se uma pessoa adoece prematuramente por uma vida estressante de noites mal dormidas (o sono é um dos melhores remédios negligenciados), um ambiente tóxico (parasita) pode sugerir que o problema está dentro do indivíduo (ansiedade talvez), a solução está em ingerir medicações apropriadas e adaptar-se psicologicamente ao que lhe deixa doente. O sistema parasita irá se preservar e não admitirá que a solução (ou parte dela) é alterar o sistema doentio para o parasitado.
É claro que pensar sobre um fragmento da vida social não irá explicar toda a complexidade do espírito humano. Embora exista uma tendência ao controle social, em transformar pessoas em quase robôs (por razões diversas, algumas justificáveis). Cada indivíduo é um universo. As pessoas irão reagir de modos diferentes ao mesmo estímulo no mesmo ambiente. No entanto, é notório que há padrões seguidos pela maioria das pessoas e muitas vezes com caráter de verdade absoluta. Pode ser bem desconfortante para uma pessoa tentar desmistificar ações coletivas que, embora sejam racionalmente absurdas, geram prazer ou vantagens aos seus integrantes. Exemplo: os crimes de guerra; a violência (de todas as formas) e a covardia que a mulher sofre através do machismo; ser crucificado em espetáculo público por cultuar uma religião diferente; entre outros exemplos.
Talvez você nunca tenha parado para pensar quem realmente você é! O seu nome, por exemplo, não diz quem você realmente é. Sendo Tierry ou Siegfried eu teria praticamente a mesma vida e as mesmas influências.
Escolhemos sem muito pensar nas razões o esporte favorito da maioria, os hábitos da maioria, a religião da maioria, a culinária da maioria, as verdades da maioria. Um saudita provavelmente será islâmico. Um brasileiro provavelmente será cristão. Um norte-americano irá gostar muito mais de basquete e beisebol do que o idolatrado futebol para o brasileiro. São grandes bolhas sociais que nos dão até a ilusão da escolha. Quando uma pessoa, por exemplo, escolhe um time de futebol carioca (uma bolha local) para venerar com paixão, ela não está saindo da grande bolha do futebol como esporte favorito, político e popular.
Muito do que aparentemente escolhemos são ideias e gostos adotados, alguns bem antigos que vieram de muito longe, dentro de um nicho de escolhas que nos são apresentadas. É como um animal escolher se quer caminhar pelo lado A, B ou C até o abatedouro. É claro que a dinâmica da vida, felizmente, é algo tão complexo (ainda?) que nenhum grupo humano consegue exercer plenamente o controle social (ou consegue?). Então há muita espontaneidade também, por exemplo, quando são criadas as festas populares que alegram a maioria das pessoas. É um misto de força da vida, o humano expressando sua humanidade, com tentativa de controle social. O propósito de uma festa pode ser a celebração pela celebração, mas pode ser que nela exista uma justificativa política ou religiosa que foi introduzida para controle social.
Mesmo aqueles que estão em posição de comando, os líderes, são também influenciados pelo sistema e suas vantagens cômodas demais para refletir sobre mudanças estruturais. Afinal, quem quer mudar o que parece bom para si? A insatisfação é a grande motivação daquele que quer mudança. O conforto, o prazer, a vantagem sobre os outros pode ser uma prisão de ignorância extremamente agradável. Quantas elites sociais, através da história, faziam banquetes em plena crise de fome social.
Repito a pergunta: Quem sou eu? Além da língua que me foi dada até para pensar. Quem sou eu? Além do acidente geográfico que me tornou brasileiro. Quem sou eu? Que não escolhi ser homem ou mulher? Quem sou eu? Que não escolhi meus vizinhos, minha escola e muito menos o que deveria ter sido me ensinado ou educado. Quem sou eu? Que trabalho pelo salário, pela comida, pelo aluguel, pela aposentadoria, pelas dívidas, pelo remédio e pela falsa segurança que vou dar para a minha família. E se sobrar tempo talvez pela vida. Quem sou eu? Que visto o que está nas propagandas, nas modas. Quem sou eu? Que tenho como referência quem aparece na TV ou internet. Quem sou eu? Que sonho em ser jogador de futebol. Quem sou eu? Afinal...
Ass, Tierry Coelho
Trabalho: 00005 de 10000.
* Mais uma vez, o melhor que deu para fazer com o tempo que não tenho. Ficou até bem ruizinho e tendencioso. Porém, é uma reflexão que poucas vezes as pessoas fazem. Não leve ao pé da letra: felizmente você tem sua própria mente para pensar e filtrar o que é bom para você. A intenção do texto era outra, mas acabei desviando da temática e virou este assunto acima. O texto merece uma boa revisão, mas que não farei provavelmente.
Outros textos da série:
Em Busca do Sentido da Vida: "O meu sentido de vida".
https://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/8078701
Em Busca do Sentido da Vida: Impossível não ter sentido.
https://www.recantodasletras.com.br/pensamentos/8078051
Espero que seja soma para alguém!