Era uma vez um orador
NUNCA fui um político militante de verdade, mas participei de algumas campanhas em Pesqueira, fui até secretário do diretório do MDB. Cheguei, pasmem, a fazer discursos em praças públicas, mesmo sendo rouquinha, tímido e sujeito ao branco total no meio das falas. Desisti. Vou revelar o motivo. No maior comício havido na cidade, em todos os tempos, como era quem escalava a ordem dos oradores que iam discursar, me escalei para falar antes do último que era Miguel Arraes. Foi em 1986. Levei sté minha filha caçula para o palanque. Falei pegado na mão dela. Fui aplaudido, as pessoas gostavam de mim. Mas depois do discurso desci do palanque com a filha, meio vaidoso e resolvi testar minha fala no comício. A primeira pessoa que encontrei foi uma Índia velha, muito minha amiga, ela estava pitando seu cachimbo. Quando lhe perguntei sobre o discurso, ela tirou o cachimbo da boca, deu uma cuspidinha e mandou ver: - Oli, Uila Porto, ocê, Migué Arraizi é meu padim Damião nois num entende nada que ocês fixo maixi gosta assim Mermo.
Era uma vez um orador. William Porto. Inté.