Futuro do Pretérito
Melhor do que chegar, sempre é poder ir embora.
Chegar implica toda uma jornada, na qual não sabemos o que vamos encontrar dentro de uma caixa, chamada vida.
Ir embora traz aquele sentimento de missão cumprida: eu fiz tudo o que pude, vivi e aprendi, fui e deixei ir.
A maravilha do negócio é o miolo: no miolo do coração há tentativas e dores que ninguém viu, coisa que o Pagodinho disse:
__ O dono da dor sabe como dói.
O rei Davi salmodiou, dizendo que diante da presença do Pai, há diversos odres com as nossas lágrimas: somos feitos a imagem e semelhança Dele, nada pode escapar.
Ir embora é delicioso porque cumprimos uma missão, um ciclo. Permanecer seria a nossa involução e a involução do outro: um fim de festa, onde todos estão cansados, e o significado da música já não é mais relevante.
Agridoce e cinza. Pedal com corrente solta. Música lounge 199'0s das antigas, para espantar clientes em loja de vestuário.
Um vendedor com sorrisos, mas as pernas queimando de dor, imaginando um par de sapatos retirados e um abandono completo no sofá.
Perfume velho que causa estranheza: cigarro intragável para um não fumante.
Eu quero que você seja mais feliz!
Eu quero que você seja mais feliz!
Portanto, agora eu vou!!!
Assim, diz aquela canção que amo, Happier, do Marshmallow.
Ah, eu quero que você seja mais feliz, porque só eu sei como doeu, e a sua compreensão não pode entender meu processo.
Eu era novo, mas atemporal; tu eras sábio, mas raso.
A forma que amamos foi livre, mas cada um precisava de amor de uma maneira: tínhamos poços vazios, mas com necessidades de águas distintas.
Eu precisei ir, para que fossemos mais felizes. O futuro do pretérito nos mataria.
Eu poderIA continuar relembrando os bons momentos, para você quase obsoletos; eu irIA sorrir, sabendo que o desgaste invadira a todos.
As lembranças estão intactas nas gavetas, e me despedir daria muito trabalho. Amo incorruptivelmente, mas, portanto, agora, eu quero que você seja mais feliz!