Escolher palavras

Você se lembra de como era trocar cartas? Daquelas que levavam um mês para serem redigidas e outro para serem enviadas.

Requeriam diligência. Pois, uma vez postadas, não podiam mais ser apagadas ou emendadas.

E, então, a espera, a angústia.

Nunca se tinha certeza de sua chegada, nem de como seria recebida, ou se haveria qualquer resposta. Era prudente ponderar os detalhes. Deixar perguntas e assuntos abertos para garantir o retorno.

Quando escrevo para você, escolho cuidadosamente minhas palavras. Mesmo aqui, mesmo assim, cada uma sai com a intenção de evitar rapidez, imediatismo ou superficialidade. Quero que você as aproveite.

Eu construo um mundo inteiro para cada palavra digitada e pondero antes de pressionar "enviar", na esperança de surpreendê-la com nuances. Não são palavras apressadas, as primeiras que vêm à mente, como se eu estivesse vestindo jeans qualquer para correr até a padaria...

Não, quero que você as aprecie, saiba que foram escolhidas especialmente para você. Por isso, opto pela segunda palavra, às vezes até pela terceira, aquela que veste meu texto da maneira como desejo que você o veja.

Quando quero ser descontraído, uso um "show! Vamos lá". Às vezes, opto por "visceral", sabendo que você aprecia. Uma vez usei "estupidez" em vez de "burrice" e me arrependi.

O que mais une do que a língua? Então, aqui estou, me preparando, brincando de tentar compor poesias para você.

Mozart Sávio
Enviado por Mozart Sávio em 31/05/2024
Reeditado em 29/06/2024
Código do texto: T8075735
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