O valor da vida

Por vezes, sinto-me perdido entre aqueles que à minha volta formam uma multidão. Como é possível sentir-se isolado, estando envolto num mar de gente? Não me entenda mal, não me acho especial. E é justamente por essa razão que me sinto tão sozinho. Quando direciono a vista para o mundo, do mundo, só enxergo o movimento. Há sempre alguém correndo, há sempre pessoas sorrindo, há sempre pessoas vencendo na vida. E eu, que pareço perdê-la um pouco todos os dias, vou cada vez mais me recolhendo ao fracasso. Não consigo sair da zona de conforto, não consigo sorrir todos os dias, não consigo manter sempre uma rotina regrada, não consigo ler 10 livros por mês, não consigo completar meus exercícios. Os que estão, quando falam comigo, me olham de cima para baixo. Constatando na baixeza última, o meu ser dilacerado. Uns sentem pena, outros chamam-me de covarde, preguiçoso, acomodado, inútil. Devem estar certos, de fato. Os que desejam me incentivar repetem: “Você é fraco, pois se entregou a derrota”. Eu costumo, durante a noite, depois de chegar do trabalho e jantar com minha família, sentar na porta de casa, olhando o céu, com sua infinidade de astros, pensando comigo mesmo, naquele momento, fracassado ou não, a vida vale a pena.