Ela é poesia
Eu, que sou um homem científico, preciso confessar: conhecê-la é, no entanto, um paradoxo - e dos mais intrigantes.
A cada encontro, descubro em ti, minha musa, um universo inteiro, um mistério que, quanto mais me meto, longe de se aclarar, mais se adensa. Perdido nas inúmeras possibilidades dessa tua selva, em meio às tuas folhagens, a tua presença, me explora.
Tu és, pois, uma obra de arte viva, uma pintura cujas sombras e luzes se alternam. Tens um olhar altivo, és vaidosa e orgulhosa. Mesmo assim, tão complacente, tão terna e bondosa. Queres que eu diga que a amo? Queres mais um admirador?
Em nossos breves encontros, sinto faíscas que me queimam e, simultaneamente, iluminam. Um instante de clareza no nevoeiro da vida cotidiana. Sinto então uma torrente se erguer dentro de mim, uma correnteza que me arrasta, envolve e, paradoxalmente, me transborda. Como se eu me torna-se a própria cachoeira.
Mas então, quando busco a tua presença, tu me ignoras. Não vens ao meu chamado. Minhas palavras tornam-se insuficientes, falham e me escapam. Tento exprimir o indizível, mas a linguagem dissolve-se como areia entre os dedos. Recorro então ao exagero, às metáforas, dispensando os eufemismos. E sinto que não disse nada.
A cada tentativa, perco-me mais nesse oceano que não se comporta em qualquer palavra. "Amar-te", que tolo seria por dizer, seria como querer abraçar uma tempestade e não se molhar. Mas desejar a alma encharcada. Tu és, simultaneamente, uma incógnita e um espelho, refletindo o que há de mais íntimo e intenso em mim, e que ainda assim não compreendo.
Tu tens uma profundidade que não se deixa apreender com facilidade, tu estás naquela nota persistente, quase imperceptível, no fundo de uma melodia, que faz toda a diferença. Aquela que quando estas acostumado com a previsibilidade, surpreende.
Tu és a musa e o enigma, a beleza efêmera e a verdade eterna, o infinito que persiste além do fim e que escapa aos olhos do homem.
És a promessa de uma descoberta a cada encontro. Eu, apenas um navegante perdido em teu mar de mistérios e significados, tentando cientificamente, decifra-los.