A lógica do nada

Sou canto, pedaço de estrada, a ponte ruída, resquícios de pedras.

Olhar perdido de monte, sem sol, nem colibris, a flor, que fugiu a beleza.

O calabouço tão trancado, cortinas velhas, o riso que disfarçou.

As pedras não reclamam à morte todo dia, contentam se não morbidez da tumba.

Um carinho me basta, o olhar de um menino, na loucura que escrevo.

Na solidão deste tempo, ouço a voz da lua, uma canção dos céus.

De tantos, fiquei bem só, apenas com os fantasmas que ceiam comigo.

Ao menos, não falo sozinho.

Na insônia que consome, viajo entre paredes, textos, discos e aliens.

A vida é tão comprida, ontem eu era feliz.

Daqui a pouco vou contar as estrelas, pintar no muro velho, todo meu universo.

Loucos sorriem, acham graça no nada.

Os sábios morrem buscando equações.

No fim, tudo é uma mera pintura, um quadro sem pé, sem cabeça.

Sou canto, pedaço de estrada..

A lógica do nada

João Francisco da Cruz