Pedra e coração
A chuva não lavou a pedra, nem levou as marcas, as dores e à queda.
Ruiu o tempo, o vento que dissipou, e a pedra, tão lá.
Inerte, desértica, inóspita, oh, pedra de quina e dor, de lascas e esquecimento.
Perdeu se a conta, os números, os tontos, e as tantas insistências em vão.
Todavia, perdura a pedra, que tão fincada, a rocha é.
Bem pedra sou, de um coração corroído, inerte para amar.
Os ponteiros se cansaram, dormiram as luas, iludidas, de muito tédio, à esperar.
Oh, pedra de coração, nem os sóis, os belos rostos, nem o amor te fez ruir.
Dorme em demasia, pedra aguda, rocha fria, no canto que nada encanta.
Estilhaça, paciência, pedra de sentimento, coração no frio relento, agudo tempo, tão só.
Pedra que fere a ferida, dura é, rocha espremida, envelhece o tempo à tentar.
A chuva não lavou...
João Francisco da Cruz