Porto Seguro
Ao longe, perco me de ti, à vista, como um porto que ficou.
Deslizo me em escuridão e águas turvas, perco me na imensidão do nada.
O porto que outrora era, deixei te a tempos , o amor seu, perdi à deriva.
Sobraram ventos, resquícios e destroços, ruínas de um cais.
Os ais me seguem, como o sol que queima tão ávido, um sedento perdido em águas de sal.
Não vejo nada, além de ondas, de sombras e fantasmas, a morte me segue, tão espreita.
Conto as dores, os momentos sem ponteiros, desejo um fim, se só, sinto me, tão.
Oh, porto, lugarejo tão bonito, de aconchego, passaredo, à vista, esta morte não temia.
Todavia, perde se o chão, o cais de outrora, seu beijo, um abraço, a âncora de ti.
Num momento, as águas afogam, e nem rochedos e faróis, tudo escureceu, só a bruma e tempestade.
Nos mares da vida, morro um pouco todo dia, marinheiro tão disperso, estou.
O barco que sou, sem ti, quase inundado, não enxergo a terra, e só as ondas me acenam.
Oh, porto meu, mostra me rochedo, a luz do farol teu, olha para mim, outra vez.
João Francisco da Cruz