A Intelectualidade da Revolta
Livros caiam em minhas mãos de criança curiosa e ávida por novidades nas artes, na cultura, no pensamento, na vida.
O cheiro vetusto de suas páginas grossas, pesadas pela sabedoria autêntica, inspiradora, proeminente. Como adorava ler e reler textos, biografias, rodapés e conhecer ao lado dos dicionários vocábulos estranhos, ricos e pertinentes.
Uma criança sozinha, filho único. Sonhador.
Queria ser dramaturgo, novelista, poeta, diretor teatral, roteirista de cinema, cineasta. Artista plástico. Imortal de qualquer academia. A cultura, suas liberdades, seus desafios, suas mudanças de rotinas.
Eu menino, lendo revistas, artigos. Ensaios. Queria ser jornalista, também. Um profissional múltiplo. Compositor. Poeta das canções. Das emoções. Um intelectual. Para palavra, que vocábulo bonito: INTELECTUAL.
Meus sonhos terminaram quando vi as sombras nefastas de uma doença mental destruir minha mãe querida.
Ninguém ao meu redor ajudaria, ter a devida empatia solidária para que um jovem jamais desistisse de seus estudos, de seu futuro brilhante de Provedor de Artes e de Cultura. Conceder a riqueza amistosa do Conhecimento.
Sozinho, vi meu futuro passar e vi que nada construir. As aspirações ficaram num lado empoeirado de meu passado.
Na maturidade de minha existência só tenho o dia e a noite e a humilhação de ter perdido precioso tempo de minha vida em ver os outros crescerem e eu estático. Olhando pela janela da existência meu vazio, um vácuo lívido.
Havendo mais fracassos e frustações que o precioso almejar da riqueza cultural que habitava dentro daquele menino que hoje morre a cada dia de medo da sarjeta e da miséria humana.