Eu e Deus II.
Eu e Deus II.
Sentado na raiz da Cajazeira Eu e Deus tomávamos uma cerveja e conversávamos sobre coisas banais. De repente passou um senhor pedindo a Deus uma pequena ajuda. Na casa do mesmo faltava-lhe pão, sua esposa também uma senhora mal podia andar, seus filhos debandou-se para a vida, ele por sua vez nada fazia a não ser edificar a frase dita por todos os cristãos que esperam cair do céu.
- Deus proverá!
Deus por sua vez, tomou mais um gole e lhe disse que nada poderia fazer se ele mesmo não tomasse as rédeas da sua vida. O senhor olhou-o de cima e abaixo, resmungou alguma coisa e saiu bufando. Visto esta cena perguntei:
- Deus. Cara que porra foi essa?
- Ah! Rocha fácil! A vida toda esse infeliz viveu de escoras usando meu nome como moeda de troca, sua esposa vivia brigando com ele e era mesmo que falar com as portas e tudo que dizia era que eu iria providenciar. Agora veja.
- Ah! Ok. Desses tem aos montes.
Deixando o acontecido e vendo que a cerveja tinha acabado, Deus pediu mais uma. Voltamos a conversar coisas triviais, sobre gostos muitas vezes distintas. Não demorou muito passou um homem, aparentemente forte numa moleta pedindo esmola, ao deparar-se com Deus ficou sem argumentar tal pedido, porém, sabemos que a inteligência humana e a capacidade de se adaptar é feroz, o mesmo falou:
- Deus que bom ter te encontrado. Há dias eu sofri um derrame, causando-me esse fardo e não posso trabalhar. Será que vocês não teriam uma ajuda para esse humilde cristão?
Deus o olhou nos olhos e disse:
- Ok. Vou te ajudar.
O homem olhou para o céu, levantando as mãos agradeceu. A vida é assim, as pessoas criam a mentira, não a projetam nos seus menores detalhes e são pegos de calças curtas.
- Um minuto amigo. Você chegou aqui sem nem colocar seus pés no chão devido sua mazela, agora com a mesma rapidez com que chegou colocou o mesmo no chão ainda sem se segurar nas moletas levanta as mãos em agradecimento. Vai se fu.....r.
Com o olhar perdido e desmascarado ele tenta a última carta.
- É um milagre. O senhor me curou.
- Ora saia daqui.
- Posso tomar um copo?
Deus o olhou com aquele olhar que o próprio Satanás ficaria com medo.
- Rocha. Cara é cada uma que aparece.
Eu não me aguentava na risada.
- Tudo bem. É engraçado.
- Velho você escolheu a profissão errada.
- Tem horas que tenho a mesma opinião. Vamos terminar a cerva.
Tomamos mais um gole, e, após o acontecido a conversa tomou um rumo digamos assim, meio religioso. Não adentramos a fundo no tema, uma mulher com a Bíblia em seus braços gritava para quem quisesse ouvir que o apocalipse estava perto. Deus riu.
- Por que a risada. Perguntei.
- Essa história é antiga. A cada geração essa mesma canção é entoada com datas diferentes. A cada situação, acontecimento, ou, notícias é motivo. Desde que o mundo é mundo que todas essas desgraças aconteciam, o que difere é o fato de ficar mais explicito. Eu mesmo tenho tantos nomes que às vezes nem mesmo sei quem sou. A parte interessante é que uma mentira tem tantas mentiras em si.
- Em parte concordo.
- Rocha. Devo dizer-te as pessoas ou a pessoa que escreveu este Best Sellers da religião merecia tomar meu lugar, nem eu mesmo teria tamanha criatividade. O(s) criador(es) deste livro foi engenhoso que no momento da criação até a última página diluiu seu amago. Você como escritor mesmo que amador quando escreve coloca um pouco de si concorda.
Apenas assentir com a cabeça.
- Então.
Antes de continuar a mulher se aproximou de nós com o sinal da cruz, vai de retro Satanás. Essa imagem se nosso senhor bebendo só pode ser arte do inimigo. Nesse momento Lúcifer ia chegando.
- Epa! Não me meta nessa balbúrdia. Nada tenho a ver com esses dois irresponsáveis.
A mulher tomou aquele susto quase desfazendo-se e colocou o calcanhar na nuca da correria que se fez.
- Essa mania de vocês tomarem cerveja embaixo da Cajazeira da nisso. Falou Lúcifer.
- Quer um copo? Perguntei-lhe.
- Não! Eu não bebo, você sabe.
Eu ri.
- Vim chamar meu irmão para ir a festa da mãe terra. (Gaia.)
- Vou nessa Rocha. Outro dia tomamos mais uma. Valeu. Fui!..
- Ok. De boa.
- Tchau.
- Tchau.
Fiquei observando os dois dobrarem a estrada de acesso ao prédio (O prédio é um colégio ginasial da minha época de garoto). Foi quando Maria (Ex. Mulher.)se aproximou me perguntando:
- Ta ficando doido? De hoje que estou vendo você falar e ri sozinho. Vai ser internado uma hora dessa. A veia ta acordada. Vim vê se precisa de alguma coisa.
Ela foi andando em direção a casa quando parou, olhou para trás e gritou:
- A cerveja ainda vai te matar. Rsrsrsrsr.
Sentado na raiz, virei mais um copo e olhando para o céu, escrevi.
Texto: Eu e Deus II.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 23/05/2024 às 23:39