Sobre Nós
Quando a água afoga a casa;
Quando falta um abrigo;
Quando tudo fica respingado, molhado ou mofado;
Quando não há um lugar seco para descansar ou se aquecer;
Falta o ar, me afogo, mofo e dos olhos jorra água.
É desesperador, transborda-me a tristeza e esvazia-se a esperança.
Enxergo tudo o que está, também, quebrado, mofado e perdido em minha vida.
A casa alagada ressoa com os alagamentos do peito. Sufoca.
Tenho vontade de gritar para me libertar da tristeza desse lugar abandonado.
A casa, toda furada e rachada, encontra meus furos e rachaduras.
A casa, estagnada e inflamada, revela minha própria estagnação.
Sinto vontade de fugir - parar de olhar pro adoecimento e desconexão desse lugar.
O abandono e a rejeição aqui mostram-me como me abandonei e me rejeitei.
A casa escura é só uma projeção das minhas sombras que ali estão.
Ao final percebo:
Não era sobre a água.
A água só passa, atravessa os buracos e os torna mais claros.
Também não era sobre a Casa.
A Casa só fica, abriga e revela o que dou a ela.
Era sobre mim. Era sobre Nós.
Pensei estar perdida, mas sei por onde começar.
Só não queria olhar para o caos e o medo que está.
Os transformei na realidade, quando são apenas uma parte
Dela e minha.