Sombras do passado: Um abraço ao desconhecido
Quando estou só, em companhia de minhas sombras, experimento as sensações proibidas e as culpas de passados mortos. Sentada, abraçada aos pensamentos que me fazem humana - porém são demasiadamente verdadeiros para mostrá-los ao mundo - eu me afeto e toco afetuosamente as minhas piores memórias. Que tortura! Já me disseram uma vez que o passado é uma roupa que não nos serve mais, mas nunca me disseram o que fazer com elas. Então, eu guardo, pois nos olhos elas cabem. Na narina, o cheiro de guardado denuncia o tempo. No toque, a sombra se materializa.
O que morre é o corpo e o passado é uma alma penada, daquelas que dificilmente encontram a luz. As minhas sombras são sutis, são como o cheiro de café fresco, um convite para o gole. Não consigo, de frente para o espelho, sentir os sentimentos proibidos, expressar os sentimentos proibidos, encarar os sentimentos proibidos. Como aceitar que dentro de mim o sangue bombeia ódio, rancor, inveja e impaciência? Como explicar para a dor que aquela roupa não nos protegerá de nada?
Todo dia, encontro e aceno para o passado e para os sentimentos. Uma vez eu disse a eles que o caminho estava livre e que eles poderiam ir, pois, como as roupas, aqui eles não encontrariam as formas ideais para encaixe. E mais uma vez, sem saber o caminho, eles preferiram ficar, no abrigo do meu abraço.