Retrato na estante de alguém
Se você já é grandinho então sabe que isso aqui vai acabar. Pois é. Eu sei que é chato e que nos sentimos desrespeitados, afinal de contas, não fomos consultados sobre a nossa vontade de aqui estar assim como não somos consultados quanto ao nosso desejo de daqui partir. Mas o fato é que um dia iremos embora, partiremos, chegaremos ao ponto final de nossas histórias. Uns compreendem isso rapidamente e, assim, passam a viver como ninguém viveria – de seu jeito único e singular. Outros, no entanto, parece que deixam essa verdade passar batida e, infelizmente, desperdiçam a sua estadia por aqui com medos bobos, escolhas equivocadas e pensamentos limitados. O que quero levantar com essa conversa é que hoje somos um fato, mas amanhã talvez sejamos memória.
“Um dia seremos apenas um retrato na estante de alguém. Depois, nem isso” (Telomar Florêncio)
O que também quero transmitir é que estamos condenados à finitude. E, além de um dia nos transformarmos em memória, chegará o dia no qual seremos simples e puramente esquecidos. Ninguém saberá o nosso nome, nem qual profissão tivemos, com quem nos casamos ou quem foram os nossos filhos. Um dia cairemos no esquecimento. E para termos uma noção disso é muito simples: será que sabemos quem foi o avô do nosso tataravô? É provável que não. Porque a vida é assim mesmo. A menos que nos tornemos em astros com carreiras grandiosas, um dia cairemos no mais profundo e colossal dos esquecimentos. E esse é um fato.
Diante disso, que possamos nos interrogar sobre as vezes nas quais nos limitamos e privamos pelas opiniões daqueles que nos cercam. Que possamos nos questionar sobre as escolhas que não fizemos e que nos levariam a lugares que realmente adoraríamos visitar apenas porque tivemos medo da reprovação de alguém que possuía duras visões sobre a vida. Que possamos nos conscientizar sobre a verdade de que anular nossos desejos e deixar de viver nossas vidas é um desperdício de existência, afinal de contas, todos aqueles que poderiam nos julgar um dia também serão apenas retratos e no outro também cairão no esquecimento. Ninguém é eterno. As críticas não são eternas. As opiniões não são eternas. As expectativas sobre nós não são eternas. Que quando formos retrato tenhamos no rosto um sorriso genuíno por termos vivido uma vida de verdade. E que quando formos esquecidos sintamos, onde quer que estivermos, que para nós a nossa vida foi agradavelmente inesquecível!
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)