Sobre a casa
Hoje me deparei com a ideia de que a casa é uma espécie de geografia. As vozes do passado não soam da mesma maneira em todos os recintos, cada espaço guarda seu próprio som e cheiro. Ao me deparar com essa ideia (advinda de um livro), me ocorreu de pensar: não será a casa aquele pedaço da gente que se impregna na luz, na cor e textura das paredes? Não é a casa esse amálgama de sons, de cheiros e de vivências que fazem da casa um pedaço nós? Confesso, isso me tocou.
Pensar a casa como esse pedaço de nós, me possibilitou ter a casa como nosso quase santuário. É no santuário que o sagrado se constitui. É no santuário, como o local que deve ser cuidado, que o sagrado adquire significado. Nesse aspecto, a casa se torna nosso santuário na medida de nós mesmos. Somos a casa que habitamos.
Entre as memórias mais recorrentes (outra imagem que me deparei), para além de qualquer geometria que possa ser desenhada, a casa, penso, guarda esse privilégio como referência possível das vivências. É na e das vivências que se constitui o humano como elemento necessário de possibilidades. É na constituição da casa, como espaço de fronteira e fortaleza, que nos tornamos senhores de nossos caminhos e escolhas. A experiência da casa, que também é refúgio, é possibilitar nosso encontro com nós mesmos, sem julgamentos, sem a obrigação da prestação de contas tão exigidas no espaço público. É na experiência da casa que longe e perto são demarcações de eu e nós, interno/externo. Nada na casa está ausente de nossos passos. Percorremos a casa como se andássemos pelo nosso reino. A casa é o reino pessoal de cada habitante. É só no humano que a casa é casa.