A borboleta
Ela chegou sem pedir licença e pousou na página do livro que eu lia. Tinha as cores do carnaval, mas não participava da festa, assim como eu. Era só uma borboleta colorida. Lembrou-me de outros carnavais e que as coisas boas da vida deveriam ser como o carnaval, que todo ano se repete. Mas nunca é igual, nem o carnaval nem as coisas que vivemos. Os anos passam rápido e só nos resta aceitar que vamos abrindo caminhos e deixando para trás outras trilhas com seus espinhos e flores.
Vai ficando para trás aquele grande amor da escola ou do barzinho da esquina, aquele que foi a razão do seu próprio existir, agora não lhe pertence mais, perdeu-se no caminho e levou junto as promessas não concretizadas, de caminharem lado a lado, restando apenas as lembranças tatuadas na alma. No fundo, tudo se ressume a sermos uma lembrança na vida de alguém: filhos, amigos ou amores.
E o tempo nos ensina que nossos pais partirão em algum momento, que nossos filhos não são as nossas projeções; que dificilmente envelheceremos ao lado do nosso grande amor; aliás, há aquele amor que não é pra essa vida, pois é tão grande que não cabe em nossas mãos, mas cabe em nossos versos e sonhos. Esse amor pode e deve ser guardados na memória, o único lugar onde estará seguro e jamais deixará de existir.
A literatura nos mostra que Dante nunca teve Beatriz, Camões nunca teve sua amada, Rubião jamais foi de Sofia, e tantos outros que se eternizaram por não terem dado certo. Talvez, a síntese do amor eterno seja a partida. Cada um mata o amor à sua maneira: Dom Casmurro, Anna Karenina, Emma Bovary, etc. A lista é grande. Enfim, se apaixonar e não viver a paixão é percorrer um caminho desbotado, mas sempre haverá borboletas coloridas a nossa volta.
E a borboleta voou…
Tianguá, 17 de fevereiro de 2024.