O desespero de nos colocar no escuro vazio
A solidão do ser mediado pela angustia, pelo absurdo entre o pensamento e a realidade, pela fonte intima do ego abjeto que, mesmo sabendo da incapacidade humana para tanto, busca tornar-se o absoluto.
O limite está exatamente na fonte de relação epistemológica, onde o pensamento e a realidade se cruzam, determinando a incapacidade humana de entendimento, de abarcamento, da realidade, assim, portanto o homem se fecha diante de si mesmo, e busca no desespero da existência alguma luz sobre si, um reflexo de conjuntura social ou se mantem em sofrimento, no escuro, na dor constante da existência.
Este ser, portanto, busca a morte de si, ainda em vida, a determinação de uma fonte vazia de existência, se tornando um zumbi de singularidade vazia.
O outro não mais lhe atende e não há coragem para o grito de socorro.
E se há algum culpado somos nos mesmos, afinal somos seres livres!
Já no fim da vida, os pais, diante do sofrimento, por conta dessa ardente solidão, e das dificuldades de relacionadas a idade, relacionamentos e amizades, podemos dizer que tudo isso foi o que construíram para si, e para a sociedade que vivemos, foi, portanto, o que plantaram durante sua existência.
Tais afirmações são mera atribuição de culpa sobre o que realmente não podemos entender, afinal, nenhum entre nós detém o entendimento sobre os desdobramentos, sobre o fluxo de acontecimentos de nossas decisões.
Então determinamos um culpado, afinal deve ser justamente aquele que está em sofrimento, e como fica mais simples quando encadeamos na história todos os acontecimentos que determinaram a realidade de hoje.
Logicamente, podemos realizar tais aferições, olhando para traz (historia) podemos firmar decisões e consequências, mas a ilusão acontece quando passamos a pensar que detemos a cognição para determinar o futuro mediante as decisões de hoje.
Essa culpa diante das possibilidades passadas, onde o pensamento e a realidade se tornam diferentes entre si, essa condenação de sua própria singularidade, é o maior sofrimento daqueles que buscaram ser autênticos e livres.
Nessa confrontação existencial, o absurdo se revela mediante o precipício que nos colocamos, e quanto maior for a determinação de autenticidade e liberdade, maior será a pancada no muro limite da metafisica.
No absurdo, essa diferença entre pensamento e realidade, as ilusões caem por terra, somos reduzidos, despidos de nossas mascaras, nos vemos nus mediante nosso próprio entendimento de nós mesmos, e buscamos nos esconder de tudo, com vergonha do que somos diante do absoluto verdadeiro.
Afinal todo julgamento que realizamos em vida, agora se mostram em nós mesmos, em nossa própria face existencial verdadeira, e preferimos a escuridão para que não apareça o que realmente somos, o outro passa a ser parte de nós, afinal o que pensamos sobre o pensamento do outro, o julgamento que realizamos do outro, transborda do que nos realmente somos.
O medo transcende o sujeito e determinamos nosso próprio fim, e em sendo assim, não temos a capacidade de determinar culpados, ou de dizer que todos colhemos o que se plantou, pois essa é a grande ilusão do humano, a ilusão de tornar-se absoluto racional de sua própria existência.