OUTONO E PRIMAVERA
“Foi em março, ao findar das chuvas, quase à entrada
Do outono, quando a terra, em sede requeimada,
Bebera longamente as águas da estação” – Olavo Bilac
15 de março.
Logo será outono
Aqui nos Campos do Jordão
E primavera lá no Japão,
No longínquo e ancestral Japão,
Onde já floresceram as ameixeiras
E logo florescerão
Os pessegueiros, as cerejeiras
E as azaleias.
Nos Campos do Jordão
As águas de março em breve fecharão
Mais um cálido verão,
Como lá no Japão
As últimas neves hibernais
Logo darão lugar
Às efêmeras neves primaveris.
Nesta Montanha Magnífica
Já se vão tingindo de dourado
As primeiras folhas dos plátanos
E algumas delas já flutuam
Em plácidas poças d’água
Semeadas nas calçadas
Pela fresca chuva que há pouco caiu dos céus.
Lá longe, muito longe,
Além, muito além das serranias
Que azulam nos horizontes
Que contemplo, lá do outro lado
Do Orbe Terrestre, na Terra do Sol Nascente,
Logo as neves de primavera
Cairão sobre as cerejeiras em flor
Que depois os ventos deflorarão,
Como a ventania do tempo deflorou um dia
Quase todos os sonhos e ilusões
Do menino que fui no outrora da minha vida.
As mesmas neves logo tombarão
Também sobre os pessegueiros
E as azaleias igualmente em flor
Do distante Império do Japão.
Aqui nos Campos do Jordão,
Porém, a neve já não cai há muito,
Mesmo no inverno,
E é no inverno
E não na primavera
Que florescem as cerejeiras
E as azaleias.
Já os pessegueiros
- Os poucos que ainda restam –
Florescem, como as pereiras, na primavera.
Ah! meu Deus, meu Deus!
Onde andarão todos os pessegueiros
E todas as pereiras
Que enchiam de colorido e de vida
As primaveris paisagens de Campos do Jordão?!
Onde andarão as floradas que cobriam
A serra primaveril em tempos
Que longínquos já vão?
Onde andarão as floradas na serra
Dos dias d’antanho?
Estamos em março, ao findar das chuvas,
Quase à entrada de mais um outono,
E a terra desta Montanha Mágica dos Trópicos
Vai bebendo as águas do fim do verão,
Enquanto no distante Japão
As ameixeiras floridas anunciam
Que a primavera logo entrará,
Como as primeiras folhas douradas
Que caem dos plátanos
Sobre as poças d’água de março
Anunciam, nesta serra, a próxima vinda do outono.
Em breve o outono de luz e de ouro
Reinará nestas montanhas
Sem neve e cheias de sol e de araucárias,
Como a primavera reinará
No País das Neves
E em toda a Terra do Sol Nascente.
Victor Emanuel Vilela Barbuy,
Campos do Jordão, 15 de março de 2018.