Toque humano
Recentemente assisti na Netflix a um filme que ela havia disponibilizado em seu catálogo – “A Cinco Passos de Você”. De forma resumida, sem a intenção de dar qualquer tipo de spoiler, a produção conta a história de um casal que se conhece no hospital, apaixona-se, mas que acaba impedido de algo tão corriqueiro, comum e, por vezes, banalizado como o toque humano. Eles simplesmente não podem se tocar. Muito menos se beijar. Precisam, literalmente, se manter há cinco passos de distância um do outro já que, embora amantes, poderiam representar a complicação do quadro clínico um do outro. Faça um pequeno exercício. E se imagine sem poder tocar a pessoa que ama. Esse dia talvez não tenha chegado, mas, conscientize-se, ele vai!
“Precisamos ser tocados por quem amamos quase como precisamos do ar para respirar. Mas eu só percebi a importância do toque, do toque dele, depois que perdi. Então, se estiver vendo isso, e for possível, toque nele, toque nela. A vida é curta demais para desperdiçar um segundo” (Trecho do filme)
Com essa simples citação acredito que dê para você ter alguma noção do teor emocionante dessa história que nos traz uma absoluta verdade... É aquela velha sabedoria popular que diz que só damos valor quando perdemos. O que acontece é que o toque humano – como tantas outras coisas de fácil acesso na vida para a maioria das pessoas –, com o tempo, perde o valor. Isso porque não compreendemos a sua verdadeira importância. Não compreendemos a falta que ele pode fazer. Não compreendemos a mensagem que é transmitida por cada singelo, tímido e suave toque que é trocado com aquelas pessoas que amamos. Desde um abraço apertado, passando por um carinho na testa e chegando a um beijo apaixonado. O toque comunica coisas que as palavras não conseguem declarar. Isso porque é através do toque, do contato, do encontro, que nossas almas se comunicam. É só através da intimidade que as trocas acontecem. Somos enriquecidos. E enriquecemos. Porque nos unimos.
Só que tornamos costumeiro o que é mágico. Porque nos deixamos levar pela ilusão de que sempre teremos algo que aparentemente nos está e estará disponível. Até que algo acontece. Até que aquela pessoa é internada e cai em isolamento. Ou até que aquela pessoa recebe a notícia de que conseguiu uma vaga de estudos no exterior e que, portanto, milhares de quilômetros de distância se colocarão entre nós. Ou seja lá por qual motivo que a vida reserve. Fato é que o toque, antes tão normal e, por isso, feito banal, pode simplesmente desaparecer, deixar de acontecer. Então despertamos para a sua grandeza. Infelizmente é quando sentimos o peito apertar: não podemos mais tocar.
Então não perca tempo. Nem deixe as oportunidades passarem. Permita que o encontro entre você e a pessoa que ama seja a coisa mais sublime que experiencie dia a dia. Não permita que se torne habitual aquilo que, apesar de estar disponível em abundância, não está para sempre garantido. Lembre-se do último toque que deu na pessoa que ama. Foi o bastante? Foi o suficiente? Foi tão genuíno ao ponto de expressar o seu afeto? Se tivesse sido o último, foi marcante? Ainda que não tenha sido o último, um dia será. E “a vida é curta demais para desperdiçar um segundo”.
(Texto de Amilton Júnior - @c.d.vida)