Dois anos a cada dia

Na voragem do existir, frequentemente relegamos ao segundo plano o imperativo de apropriação temporal junto daqueles que nos são caros. Emoldurados por intrincadas obrigações, incumbências e distrações, nos avistamos enredados em uma rotina périplo, relegando ao desprezo aquilo que, com efeito, deflagra a verdadeira sine qua non: o elo indelével que nos refrata ao seio de pessoas adoradas em nossas vidas.

O efêmero Atlas temporal, dom sepulcral, é qual subsídio intangível que advenimos diuturnamente. Lastimavelmente, amiúde somente se nos deparamos com sua agility incomum quando subtraído abruptamente. Assim sendo, impele-nos, de maneira premente, aproveitar cada ínfimo segundo à beira daqueles que amamos, eis que a vida tangencia com a brevidade de um diuturno equiparado a dois lustros incomplacentes.

Cada efusão, cada gáudio compartilhado, cada martingale de prosódia profundamente vívida, converte-se em um manancial afeito às reliquias sine qua non que devemos salvaguardar. Contudo, é corriqueiro sucumbirmos ante as malhas enganosas da melíflua illusio de que sempre haverá uma fruição vindoura para exteriorizar nosso afeto e zelo. Incutimo-nos erroneamente na crença de que os dias se perpetuam ad infinitum, sem que sejamos atentos ao fato de que, em um breve pestanejar, um dia se vai, levando consigo a oportunidade de conflagrar instantes atemporais.

A vida assemelha-se a um rio transcorrente iridescente, que prossegue em sua correnteza inexorável. Nossos afetos se encontram suscetíveis às inconsistentes vicissitudes e contingências em sua própria jornada. Trata-se de entes caros que podem esmaecer a qualquer átimo, quer por determinações alheias à nossa outorga, quer mediante a ação inexorável do Irremeável.

Dessarte, é mister nos furtarmos à conscientização do imediatismo de usufruir cada fração do tempo ao lado daqueles que amamos. Exultemos a simplicidade de um cálice compartilhado, o regozijo de uma peregrinação de vespertino esplendor, a beatitude dedilhada em torno de uma refeição familiar. Tais momentos à primeira vista triviais conferem-se em recordações ad aeternum, moldes fundamentais que proverão alicerces imprescindíveis às estruturas de nossa coexistência.

Recordemo-nos de que o tempo assume caráter de incremento não renovável. Se, a partir deste momento, malgrado fictício, concebamos um dia como igual a dois quinquênios, perceberemos, de forma constringente, o quanto o cronos vital se desfaz rapidamente. Desse modo, não subestimemos, em absoluto, a primazia de proferir um "eu te amo", de estreitar os abraços vigorosos, de veicular nossa gratidão e afabilidade incondicional.

Finalmente, sabe-se que o curso da vida se delineia pela tessitura de relacionamento que estabelecemos. Capturar a plenitude temporal ao lado dos seres que amamos é um investimento emocional e afetivo que, ainda que se figure fugaz em aparência, desvela benefícios inigualáveis. Não aguardemos, aprazivelmente, a véspera vindoura a fim de abarcar a transitoriedade da temporalidade. Vivenciamos plenamente cada milésimo de segundo, haja vista que o ápice do cosmo ínsito à singular primogenitura vital resplandece nas reminiscências que edificamos junto àqueles que amamos.

Dom Maciel
Enviado por Dom Maciel em 10/04/2024
Código do texto: T8038873
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