O último cigarro
Fumei o último cigarro, mas não fiz nada além disso. Não é este um relato de grande superação, de uma enorme reviravolta, nem vão aparecer heróis fantasiados prontos pra me tirar deste quarto que desmorona.
Não, o quarto não desmorona de verdade. Talvez minhas chances fossem melhores se assim fosse. Não, não é um relato de dor e sofrimento onde no final você questionará minha sanidade.
Não entendeu ainda? Siga as pistas. Me siga até aqui. Suba os andares que deixei entre nós e aqui você me encontrará, entenderá. Ou simplesmente me ignore, me julgue pelo resto da fumaça que deixei escapar. Mas aquele foi meu último cigarro.
Ainda não entendeu? Deve ter subido poucos degraus então. Perceba então que este texto é sobre aceitação. Nada destrói mais que aceitação. A vida precisa mudar pra continuar sendo vida, e eu preciso viver, então preciso aceitar minha verdade, preciso aceitar minhas armas, minhas lutas, minhas vitórias. Então corra. Corra porque não estou mais naquele quarto escuro que ainda cheira cigarro.
Falta luz para entender sobre o que escrevo? Correu tanto para mim, queria tanto me entender que se perdeu, e me perdeu quando passou por mim quando eu já estava no caminho de volta a rua. Não sou mais a mesma, nem você me reconheceu.
Agora sim, agora você deve ter entendido. Siga agora teus próprios caminhos, suba teus próprios andares e aceite apagar teu último cigarro.