Poemas

Numa manhã estranha de quinta eu ignorei o alarme. Deixei chegar as 6h, dormi até as 8h, precisei de café as 8:30h. Fui vagarosamente até a cozinha, vi a água borbulhar antes de ferver, vi o celular tocar pela 5° vez. Tomei um café forte e fumegante, mas tão vagarosamente que já estava frio quando finalmente acabei a xícara. Ouvi com atenção cada tilintar que a xícara fazia no pires, era hipnotizante e eu me reconfortava em saber que a casa não estava totalmente vazia, pelo menos não enquanto aquele som ressonava.

Voltei para o quarto, já devia ter ignorado tantas ligações que agora tinha pouco tempo antes de alguém chegar em minha casa para me procurar. Coloquei alguns livros dentro de uma mochila, um caderno velho, vários poemas soltos, perdidos e avulsos, alguns lápis, alguns pincéis mesmo que eu não tivesse tinta nem tela. Carreguei apenas o essencial. Deixei todo o resto intacto, quase como se quisesse que a casa me esperasse.

Sumi por caminhos que jamais soube voltar, me perdi em tantas estradas. Meu rastro eram poemas jogados ao vento, traços meus, pedaços da minha alma que escolhi abandonar até que outra alma mais necessitada me encontrasse num rascunho.

Tanto tempo se passou, tantos livros me livrei e com tantos livres me criei, me redesenhei e no ar me pintei. Seguia sempre o cheiro do café quente pela manhã, parava quando já era impossível caminhar, e caminhava quando já era impossível parar.

Pensei algumas vezes naqueles que deixei para trás, mas agora já estavam a tantos poemas passados e jogados a própria sorte que não conseguia mais lembrar seus rostos, suas preocupações, suas lamúrias.

Fui para todos os lugares, passei por todas as pessoas, e se você quer mesmo saber a verdade, eram todos iguais. Preconceitos diferentes, mas ainda assim preconceitos. Problemas diferentes, mas ainda assim problemas. Todos iguais, todos tristes demais, felizes demais, e todos me roubavam mais uma frase de alma. Todos precisavam do sopro de vida que só uma alma sincera poderia escrever, e eu não me importava em quantas vezes me despedaçava em linhas curtas.

Longe, tão longe eu estava de mim que quase me encontrei vagando no sentido oposto da rodovia. E talvez realmente tenha me encontrado, mas a cada segundo eu me renovava, não seria capaz de reconhecer minha própria caminhada.

Agora adormeço, me deito no colo do mar, me cubro com a sombra das estrelas, sonho com a canção da lua, viajo com pássaros para outros planetas, talvez lá eu encontre uma rosa tão igual a cem mil outras.

Gabriela Lourenço
Enviado por Gabriela Lourenço em 05/04/2024
Código do texto: T8035272
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