Queria escrever de amor
Queria escrever de amor. Queria poder escrever de amor. Queria ter o que dizer sobre amor. Não tenho.
Sabe aquelas histórias conturbadas, cheias de desafios, declarações intensas que só a paixão sabe criar? Não tenho. Sabe aquelas serenatas improvisadas numa noite chuvosa? Nem em sonho. Aquele formigamento que gela o estômago, aquele sorriso involuntário, furtivo de tão indiscreto. Nada disso eu tenho.
Aqueles passeios de mãos dadas, aqueles olhares que dizem mais que a boca, aquele toque que arrepia. Ah, pobre de mim, não posso nem imaginar. Aquele medo de não ser recíproco, aquela mensagem no meio do dia só para checar se está bem, buquês de rosa no trabalho. Também não.
Eu sei de poemas, de poesia sobre amores líquidos e rápidos que mal chegam a durar até a próxima parada do ônibus. Sei de versos que leio em olhares apaixonados, sei de um amontoado de roupas, livros e toda bagunça de se deita ao meu lado todas as noites.