Pensamento

Acordar de manhã, tomar um café, esperar as notícias do jornal, pensar naquele livro que ficou jogado em algum canto no ano passado e deixar para terminar de ler depois. Se revoltar com mais uma criança que morreu na guerra, e ignorar de qual país é a reportagem. Chegar ao trabalho, ser eficiente, mas só o suficiente para permanecer. Um dia eu vou seguir os meus sonhos. Esperar o almoço, e ver que ainda são 9h. No celular uma mensagem. Oi filha, vamos sair este fim de semana? Seu pai mandou um abraço. Outra mensagem as 11h e alguma coisa irrelevante. Quer sair hoje? Não. Nem hoje, nem amanhã, nem no fim de semana. Acho que o comprimido parou de fazer efeito, a cabeça dói. As colegas do trabalho estão marcando um happy hour, mas não vou aceitar o convite só por educação. Devia me alimentar melhor, mas comendo em restaurante é tão difícil.

18h. Droga, cheguei 15 minutos mais tarde, preciso esperar mais tempo antes de ir embora. O transito já está um inferno.

20h. Hoje não vou na academia, só um dia jantando pizza requentada não vai fazer mal. 3 mensagens do cara do tinder, não sei o nome. Ele quer realmente sair hoje. Amanhã ainda trabalho e já está tarde, desculpa.

21:30h. Juro que estarei em casa até 00h.

02:40h. Talvez eu não devesse ter saído, e agora ele veio para casa comigo. Ainda não sei o nome.

6h. O despertador infernal toca novamente. Hoje preciso sair mais cedo do trabalho, ou então perco a terapia.

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Café, guerra, trabalho, mãe, academia, cara do tinder.

Café, trabalho, mãe, cara do tinder.

Café, trabalho, cara do tinder.

Café, café, café, café.

Chega. Amanhã não vou ao trabalho, e nomes não me importam. Eu não sei mais de dia era a pizza que jantei ontem. Jantei ontem? Terapia só funciona se eu permitir. Não quero. As aspirinas já acabaram. Chega. Chega do mínimo. Chega de dar o máximo pelo mínimo. Chega. Talvez agora eu queira um último banho, mas a cabeça dói e eu vou dormir rezando para não acordar.

Não tomei um último banho.

Acordei de manhã, tomei café. A guerra apresenta sinais de que vai acabar. O livro tinha um final tão clichê de filme romântico. Me lembrou do Ricardo, o carinha do bar. Oi Ricardo, te vejo hoje? Tenho mais uma entrevista hoje, se passar, o novo trabalho é mais perto de casa, vou caminhando para me exercitar. Oi mãe, vamos almoçar hoje? Boa tarde, posso confirmar sua sessão de amanhã? Eu sou a motorista da rodada do happy hour.

Gabriela Lourenço
Enviado por Gabriela Lourenço em 03/04/2024
Código do texto: T8034180
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