A Estante.
A Estante.
Ele se deitou na velha cama de espuma, olhou para a estante onde havia um exemplar do seu livro que fizera em dois mil e vinte e quatro. Sorriu, um sorriso opaco sem qualquer alegria, pois, há muito tinha perdido, perdeu talvez nas vidas vividas, ou nas viagens feitas ao longo do seu viver, ou talvez, nunca tivesse isso e pensou ter tido um dia.
Balançando sua cabeça voltou seus olhos para outra parte da mesma estante, nela se encontrava seu acervo musical o qual gostava de ouvir, em especial, as músicas italianas, de súbito, se viu em mil novecentos e oitenta e nove, dançando com a pessoa querida, e, uma lágrima rolou pela sua face, aquela face dura, que ainda não acreditava no término.
Novamente balançou sua cabeça, enxugando as lágrimas restantes, e, olhando na outra extremidade daquela estante acima da TV, um anexo cheio de filmes outrora assistido em tal companhia, lembrou de um em questão, Outono em Nova York, lá fora as folhas caiam refletindo seus sentimentos que o vento levou na sua mão, uma indumentária esquecida por entre as almofadas da poltrona, onde, incansáveis momentos deitou sua cabeça para sonhar.
De repente baixou a cabeça colocando-a entre os joelhos, soluços, e, um por que?...
Por que tudo acabou?
Por que ela se foi?
Por que não falou o por quê?
Deitado ainda na velha cama de espuma, ele caiu em sono profundo, não teve sonhos, muito menos pesadelos, tivera apenas um sono tranquilo como o dia do adeus, para no final, em meio as atribulações das lembranças, tentar adormecer toda dor sentida.
Texto: A Estante.
Autor: Osvaldo Rocha Jr.
Data: 02/04/2024 às 20:58