O processo da morte
Eu descansei até cansar do lugar.
Eu respirei até esgotar o ar.
Eu me silenciei até a mente esvaziar e ouvir o sangue se misturando com o que tinha acabado de tomar.
Depois de tantas perguntas em busca do sentido correto, eu desisti.
Percebi que não sabia mais andar, não sabia mais falar e tão pouco sustentar as crises das perspectivas existenciais que nasciam sob meu teto.
Estava vivendo numa selva. Os barulhos invadiam por cima dos muros e me derrubavam como uma guerra, o dia inteiro. E como se esquivar dos sons, como remover a dor, como abandonar as paranóias do tempo?
Parece ser tudo um segredo. A maneira que as pessoas evitam ser claras, abandonando a atenção, se recusando a usar mais palavras, deixando meus sentimentos com livre interpretação.
Então, a tristeza me abraça e choro. A dor se espalha e me afogo. Afundo em parágrafos repetitivos de desabafos cansados, esquecidos por parecerem exagerados mas bonitos por rimarem com propósito.
Infelizmente, é como se somente eu visse o óbvio. Talvez porque é sobre o que sinto. Talvez porque nessas entregas eu não minto e passe a confiar quando parte de mim é colocada em outras mãos.
No final é tudo igual. As coisas vem e as coisas vão. As pessoas aparecem e depois me esquecem como um objeto jogado no chão. E enquanto eu tiver pena de mim, enquanto eu ficar lamentando pelo que fazem e não mudar o pensamento em relação a como todos agem, então vou permanecer assim.
E o silêncio se quebrou violentamente. O meu coração começa a gritar, não aceitando de forma alguma que vai parar.
Uma tempestade se forma dentro das minhas veias. O corpo se incendeia. Uma série de sensações acontecem enquanto tento me lembrar se deixei algo pendente. Talvez um último compromisso, talvez mandar um aviso que eu vou estar sumido mesmo que ninguém vá se importar. Mesmo que pra todos eles, eu já tenha morrido.
E toda essa confusão que acontece fisicamente, já acontecia mentalmente de forma constante. Era uma luta sem fim para enfrentar minhas anomalias desgastantes.
Onde cair em armadilhas era rotina. Onde conviver com a dor era um tipo de mania. As vezes fugindo da fonte da agonia até chegar no ápice da órbita. Retornando no escurecer, se pondo como se fosse esquecer, nascendo pronto para se esconder dos perigos lá fora.
E como não consegui sair desse labirinto que criei e acostumei a morar, então eu decido me abandonar.
O corpo começa a encerrar partes vitais, até os dedos já não obedecem mais. Não há nenhum filme passando pelos meus olhos. Não tenho nada a pensar pois pensei demais até para chegar nesse lugar, nesse momento. Tudo está planejado como um verdadeiro evento.
A voz se perde pelos canais, reflexos involuntários tentam dar sinais que ainda resta alguma contração, mas não dura muito.
O caos acaba. A paz reina. O coração desiste e o próprio fim contempla a desistência de estar nesse mundo.
A alma se desgruda lentamente, aguardando a mente finalmente se desligar, para ser a última a sair sem ter mais nada a proteger. Irá evaporar e se misturar com a poeira árida, deixando essa forma oca e pálida como exemplo de como não viver.