Para Escritores Em Suas Solitudes Solitárias.

Aos 22 Gandhi tinha três filhos. Mozart já tinha feito trinta sinfonias. E Buddy Holly já estava morto.

Em Maio faço 22 e ainda me pergunto quem escreve sobre aqueles que escrevem sobre os outros. É um questionamento que me veio ao pensamento quando me perguntaram quando foi a última vez que estive nas ações demonstrativas de alguém e não só nas falas.

Nunca estamos sozinhos mas quase sempre estamos solitários em nossa ampla solitude pessoal. Naquele lugar certo que cabe somente a nós mesmos e que de alguma forma isso é confortável. Talvez aquele espaço emocional onde não queremos receber visitas, optar por mudanças ou mudar o som do ambiente.

Tenho feito desse espaço mais o meu lar do que a minha própria casa e me pergunto do que ando tanto me escondendo.

Em um determinado momento quando estive na Editora a receber o meu diploma e certificado da área, precisei espairecer e o terraço me pareceu um bom lugar para dar um tempo do barulho e dos toques, apesar de grata eu precisei estar sozinha com a ventania que me aguardava naquela cobertura.

Minutos depois eu deixei de estar sozinha e quando vi já estava a me comunicar com um alguém que nunca tinha visto em lugar algum mas de alguma maneira já o conhecia. Um homem de idade com seus sessenta anos, me fez algumas perguntas sobre eu estar sozinha em um momento do qual aquela noite era sobre mim.

Entre uma boa conversa e alguns goles de vinho, ele foi embora e me deixou no pensamento a ideia de nunca fazer com que minha pessoalidade se torne um segredo. Que por eu estar naquele patamar, era mais que justo que me conheçam a fim de que se inspirem ao me verem inspirada.

Ele secou a garrafa, olhou por alguns segundos a vista do alto em que estávamos e:

- é o começo de uma vida solitária mas não necessariamente e precisamente só. É justo que sirva de inspiração tanto quanto você se inspira em ambientes, cores, sons, equinócios e virtudes - disse o homem.

Brindei e agradeci. Eu nunca soube o nome dele.

Hoje entendo o que aquele homem vetusto quis me dizer. E caí exatamente onde a experiência dele o deixou cair - onde não devíamos ter caído.

Há uma armadilha no processo criativo de uma mente que escreve de maneira fortuitamente: A criação de espaços seguros que com o passar do tempo se tornam sua zona de conforto até virar uma pilha de misturas sentimentais angustiantes, irrealidades, interferências emocionais e crises existenciais.

Mais conhecido como espaço emocional citado no terceiro parágrafo.

Aos 21 me sinto antagonista.

Aos 21 não me vejo existindo mas sim contemplando a existência.

Aos 21 não me vejo a obra mas mais a artista.

Beirando os 22 me tornei prisioneira da armadilha que eu mesma me coloquei.

Ágata Lazuli
Enviado por Ágata Lazuli em 27/03/2024
Reeditado em 31/03/2024
Código do texto: T8029118
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