O tempo
Ocupo muito do meu dia tentando entender o que é o tempo. Não me refiro ao tempo como uma abstração humana utilizada para contabilizar momentos, datar lugares, acontecimentos, coisas. Não me interesso por grandezas físicas, dimensões do universo. A dúvida, companheira desse devaneio que consome horas da minha vida, é o que o tempo é na experiência humana, o quanto ele nos afeta e o quanto nos permitimos ser afetados por ele. A questão é: O que é o tempo? Tem a ver com o relógio-calendário? Tem alguma coisa a ver com o desejo? O que tem a ver com o espelho? É sobre a memória? E se tirássemos o relógio, o calendário, se o desejo se esvaísse, quebrássemos o espelho, perdêssemos a memória? Volto a perguntar: afinal, o que é o tempo?
Este texto é a premissa que deu inicio ao meu romance TEMPO QUE O TEMPO ME DEU.
Resumo da história:
A história de duas mulheres que se encontram depois de muito tempo separadas: Maria Adelaide, uma mulher que teve a sorte de viver muitas vidas e a sorte ainda maior de começar tudo de novo. Ela, que lutou por muito tempo para esquecer o passado, defronta-se com um estado de insanidade que a obriga justamente a retornar sempre aos seus momentos mais secretos. E Bárbara, uma mulher trans que foi embora de casa muito cedo, fugindo da pressão, das mentiras e da negação de sua mãe em aceitar a sua condição feminina. Bárbara retorna para casa diante da enfermidade de sua mãe. Esse reencontro marca profundamente a sua compreensão sobre quem é a sua mãe e, mesmo que, no primeiro momento, Maria Adelaide não a reconheça, as duas passarão por momentos tensos de aceitação, recolhimento e descobertas que mudarão suas vidas para sempre, mesmo que por um breve momento.